O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA

PELAS ORIGENS DA SANTA MISSA Francisco Lafayette de Moraes  - APRESENTAÇÃO -   Este ...

COMO SE COMPORTAR NA IGREJA

Se tem um lugar onde devemos aprender a nos comportar e respeitar é na igreja, mas muitas pessoas se esquecem disso… Sendo lá o Templo de Deus, devemos levar em consideração algumas normas básicas e importantes que devemos praticar nesse lugar tão Santo.

O CRISTÃO NA “CASA DE DEUS”

1 – Bem sabe o cristão que nossos templos são lugares sagrados. Igualmente sabe que nas Igrejas católicas mora o Deus eterno e omnipotente, real e verdadeiro, embora se oculte aos nossos olhos materiais sob os véus eucarísticos.


Na Igreja, portanto, deve haver todo respeito, o maior silêncio e devoção.

[…]

3 – Quando o cristão entra na Igreja, vai logo fazer uma devota genuflexão diante do altar do Santíssimo, que é fácil reconhecer, pois diante dele arde continuamente uma lamparina, e aí adora o seu Deus na Eucaristia. Para Jesus Sacramentado deve estar polarizada a atenção, a fé, o amor dos fiéis.

[…]

6 – As senhoras devem estar na Igreja com a cabeça coberta, principalmente na recepção dos sacramentos. Os vestidos devem ser discretos e modesto. Nada de decotes exagerados e vestidos sem mangas.

[…]

8 – Ninguém deve sair da Igreja durante o sermão. Isto incomoda o auditório e o pregador e constitui grande falta de educação.

9 – Não se pode ficar sentado nem sair da Igreja durante a bênção do Santíssimo, que aliás dura poucos minutos.

[…]

11 – Eis algumas faltas de educação que ainda devemos evitar na Igreja: Conversar, cochicar, rir – olhar para os que entram ou saem – fixar curiosamente as pessoas – perturbar, como quer que seja, as pessoas que rezam – cuspir no chão – assoar-se com estrondo – fazer ruído com os bancos ou cadeiras – ajoelhar ou assentar-se desajeitadamente – cruzar as pernas – estar de mãos no bolso – cumprimentar ostensivamente os amigos (basta um aceno de cabeça) – não tomar parte nas práticas e orações em comum – gritar ou arrastar a voz nas orações ou cânticos – não guardar silêncio e respeito durante os casamentos, batizados e exéquias – fazer algazarra na porta ou nas proximidades – enfim tomar atitudes que revelem falta de fé ou de educação.

Extraído de Compêndio de Civilidade: para uso das famílias e dos colégios. 11ª edição.

Podemos ainda acrescentar as seguintes instruções:

Não chegar atrasado – se você vai de casa para a igreja, calcule o tempo necessário (seja de carro ou transporte coletivo) para que você chegue, pelo menos 10 minutos antes, evitando correria e tumulto.

Desligar o Celular – se você vai até a igreja se supõe que é para assistir ao Santo Sacrifício e não há nada mais desagradável e desrespeitoso que, em meio a Missa, tocar um celular! Atendê-lo, então, nem pensar! Você está ali para se alimentar das coisas de Deus, portanto, desligue-o!

Observe esses cuidados simples mas que trará um enorme benefício para sua fé e para os demais fiéis.

A SAGRADA LITURGIA

O primeiro dever do homem é dar a Deus o culto de adoração, louvor e ação de graças que Lhe é devido. Esse culto tem quatro elementos:

1-  Reconhecer a Deus como nosso Criador e Senhor, porque Ele nos criou e d´Ele dependemos a todo instante. (fim latrêutico)

No sacrifício da missa, é dada a Deus uma adoração absolutamente digna d’Ele, rigorosamente infinita. Esse efeito é sempre produzido infalivelmente, ex opere operato, ainda que a missa seja celebrada por um padre indigno e em pecado mortal. A razão está em que este valor latrêutico ou de adoração depende da dignidade infinita do Sacerdote principal que o oferece, Nosso Senhor Jesus Cristo, e do valor da Vítima oferecida, que é Ele próprio.

2- Agradecer por todos os benefícios que recebemos d´Ele. (fim eucarístico)

Os imensos benefícios de ordem natural e sobrenatural que recebemos de Deus nos fizeram contrair com Ele uma dívida infinita de gratidão. A eternidade inteira seria insuficiente para saldar essa dívida se não tivéssemos outros meios além daqueles que podemos oferecer por nós mesmos.

Mas está à nossa disposição um procedimento para liquidá-la totalmente com infinito saldo a nosso favor: o Santo Sacrifício da Missa. Por ela, oferecemos a Deus Pai um sacrifício eucarístico, ou de ação de graças, que supera infinitamente nossa dívida; porque é o próprio Cristo quem se imola por nós e em nosso lugar dá graças a Deus por seus imensos benefícios. É também uma fonte de novas graças.

3- Pedir perdão por nossas faltas e pecados. (fim satisfatório)

Reparar as ofensas feitas ao Criador é um dever capital. Também neste aspecto o valor da Santa Missa é absolutamente incomparável, já que com ela oferecemos ao Pai a reparação infinita de Cristo com toda sua eficácia redentora.

Mas esse efeito não é aplicado sobre nós em toda sua plenitude infinita (bastaria uma única missa para reparar, com grande superabundância, todos os pecados do mundo e liberar de suas penas todas as almas do purgatório), mas em um grau limitado e finito segundo nossas disposições.

4- Pedir-Lhe o que necessitamos para nossa vida e nossa salvação eterna. (fim impetratório)

Cristo se oferece na Santa Missa a Deus Pai para obter para nós, pelo mérito infinito de sua oblação, todas as graças de vida divina que necessitamos. Está “sempre vivo intercedendo por nós” (Heb. 7, 25), apoiando com seus méritos infinitos nossas súplicas e petições. Por isso, a força impetratória da Santa Missa é incomparável e leva Deus, infalível e imediatamente, a conceder aos homens todas as graças que necessitam. Contudo a concessão efetiva dessas graças está vinculada ao grau de nossas disposições.

Ao incorporar nossas orações à Santa Missa, elas não so­mente entram no rio caudaloso das orações litúrgicas, que já lhes daria uma dignidade e eficácia especial, mas também se unem à oração infinita de Cristo. Deus Pai o escuta sempre: “Eu sei que sempre me escutais” (Jo. 11, 42), e por consideração a Ele nos concederá tudo o que necessitamos.


Em concreto, estes são também os quatro fins da Santa Missa.

Este culto não é somente individual, mas é principalmente um culto público, ordenado e prescrito pela Igreja inspirada pelo Espírito Santo. Esse culto oficial é chamado Liturgia. A palavra Liturgia vem do grego leiton ergon que significa obra ou ministério público.

"A Liturgia é, portanto, o culto divino, público e oficial, realizado pela Igreja e que também santifica os fiéis”. J. G. Treviño, Lecciones practicadas de Liturgia

Ou mais brevemente:

"A Liturgia é o exercício do sacerdócio de Jesus Cristo pela Igreja”. Papa Pio XII, Encíclica Mediator Dei

Elementos da Liturgia

1- Santo Sacrifício da Missa, que é a sua alma e o seu centro;
2- Ofício Divino, que gira ao redor da Missa. O Ofício Divino é chamado também de Breviário, que é o livro que contém as orações oficiais da Igreja que os subdiáconos, diáconos, padres e bispos rezam oito vezes por dia em benefício da Igreja e de todos os seus filhos.
3- Os sacramentos, sacramentais, bênçãos e todos os ritos e cerimônias, símbolos e vestiduras, vasos e lugares sagrados, além dos cantos e melodias que a Igreja usa para concretizar este culto público e solene.

A oração da Igreja

A Liturgia é a teologia transformada em oração. Constitui a própria vida da Igreja, do Corpo Místico de Cristo e, por isso, tem um poder para a santificação das almas verdadeiramente admirável. Por meio da Liturgia católica, ascendem ao céu a adoração, a ação de graças, os pedidos de perdão e de ajuda dos fiéis e, por meio desta mesma Liturgia, descem sobre os homens a misericórdia, ajuda e proteção de Deus.

A liturgia constitui o meio mais poderoso que a Igreja tem para converter as almas, santificá-las e protegê-las. A Liturgia é o meio mais poderoso para comunicar a fé católica no Sacrifício de Cristo renovado sobre o altar. Por esta razão, desde os primeiros séculos se diz lex orandi, lex credendi, ou seja, a lei da oração (o modo de rezar) nos ensina a lei da fé, ou seja, a maneira de rezar e de dar culto a Deus demonstra o que cremos.

Durante séculos, a fé católica foi comunicada por meio da Liturgia, na qual estão concentradas todas as verdades do Credo católico. Por isso, modificar a Liturgia da Missa pode trazer consequências incalculáveis, provocando a alteração da fé dos fiéis, a corrupção da moral e a apostasia. Os povos protestantes são um exemplo disso. Havendo mudado a Liturgia, mudaram a sua fé e se tornaram hereges e, atualmente, ateus em vários lugares. No século XVI, na Inglaterra, o sacerdote herege Thomas Cranmer mudou a Liturgia da Missa do latim para o inglês; uns anos depois, a Inglaterra perdeu a fé católica e impediu a cristianização do mundo opondo-se às nações católicas missionárias como Portugal e Espanha.

Disposições para o Santo Sacrifício da Missa

São João Eudes disse que para celebrar ou participar dignamente em uma missa eram necessárias três eternidades: uma para preparar-se, outra para celebrá-la ou assisti-la e outra para agradecer. Ainda que não possamos chegar a tanto, é certo que toda preparação será pouca por diligente e fervorosa que seja.

As principais disposições são de dois tipos: externas e internas.

Externas: para o padre consistem em seguir perfeitamente as rubricas e cerimônias que a Igreja prescreve. Para o fiel, consistem no respeito, modéstia e atenção com que deve assistir a ela.

Internas: A melhor de todas é identificar-se com Je­sus Cristo, que se imola no altar. Oferecê-lo a Deus Pai e oferecer-se n’Ele, com Ele e por Ele. Esta é a hora de pedir-lhe que nos transforme em pão, para ser alimento de nossos irmãos por meio de nossa entrega total pela caridade. União íntima com Maria junto à cruz; com São João, o discípulo amado; com o padre celebrante, novo Cristo na terra. União com todas as missas que são celebradas no mundo inteiro. Nunca peçamos nada a Deus sem incluir, como preço infinito da graça que desejamos, a seguinte invocação: “Senhor, pelo sangue adorável de Jesus, que neste momento algum padre está elevando no cálice em algum lugar do mundo”.

A Santa Missa celebrada ou assistida com essas disposições é o instrumento de santificação mais importante de todos.

Via Seminario Nuestra Señora Corredentora

EXPLICAÇÃO DAS CERIMÔNIAS DA MISSA

Publicamos abaixo um dos capítulo do livro “O Culto Católico em suas Cerimônias e seus Símbolos”, do Abbé A. Durand.

Esta obra é uma tradução adaptada pelo sr Robson Carvalho (da Missão da FSSPX em Ribeirão Preto-SP), do original francês Le Culte Catholique en ses Cérémonies et ses Symboles.

O livro é de leitura obrigatória para todos os católicos que desejam saber mais sobre todo o simbolismo e desenvolvimento da Missa (Tridentina).

Nessa crise de fé sem precedentes instaurada na Igreja, onde coloca-se a Missa (Nova) como uma festa, uma ceia, uma reunião, um banquete, um simples memorial…..onde o importante é dançar, balançar lencinhos, chorar e ouvir uma música “maneira” ao som de uma guitarra, uma bateria ou um pandeiro….nada mais precioso que conhecer a verdadeira e sã Doutrina Católica.


CAPÍTULO VI

EXPLICAÇÃO DAS CERIMÔNIAS DA MISSA – I PARTE

PREPARAÇÃO AO PÉ DO ALTAR

Os fiéis estão reunidos para o santo Sacrifício; o padre, revestido com os ornamentos sagrados, deixou a sacristia para imolar a Vítima adorável; os anjos, aos milhares, cercam o altar, e do alto dos céus, a Santíssima Trindade considera com amor as grandes maravilhas que vão se operar. Uma voz secreta saída do tabernáculo se faz escutar pelo padre, e lhe diz como outrora disse a Moisés: “Trema ao aproximar- se do meu santuário, pois Eu sou o Senhor”. O temor se apodera, então, de sua alma. Ele se detém ao pé do altar para se preparar pela confiança, o arrependimento e a oração, a fim de celebrar esses mistérios formidáveis do qual nem os próprios anjos se julgaram dignos.

Ele vai imolar o Cordeiro de Deus, mas qual direito de vida ou de morte ele tem sobre o Deus que lhe extraiu do nada? O sinal da cruz que ele faz, o tranqüiliza, pois ele vem: em nome do Pai, que após ter entregue seu Filho à morte, deu ao padre sua autoridade para Lhe oferecer esse mesmo Filho em sacrifício; em nome do Filho, o qual ele vai tomar o lugar; em nome do Espírito Santo que formou no seio imaculado de Maria, a Vítima de nossa salvação, e por quem essa grande Vítima se ofereceu sobre o Calvário.

Esses pensamentos afiançam o padre. Seu olhar, iluminado pela fé, vislumbra acima do altar da terra, nos esplendores dos céus, outro altar misterioso. Pois é no seio do Pai, verdadeiro templo, sobre a substância do Verbo, verdadeiro altar, e pelo Espírito Santo, verdadeiro fogo sagrado, que Jesus Cristo, a Vítima, se oferece à majestade de Deus. Em instantes ele vai se aproximar desse sublime altar. Com este pensamento, um grito de alegria e de entusiasmo escapa de seu coração:
Subirei ao altar de Deus. Do Deus que alegra a minha juventude
Introibo ad altare Dei. Ad Deum qui lætificat juventutem meam
Sim, vou atravessar os nove coros dos anjos, avançar diante desse grande Deus, cujo trono repousa sobre as asas abrasadas dos Querubins, no seio da luz e da glória. Eu, criatura falha, não somente me aproximarei de meu Deus, mas repousarei sobre seu coração, pois entrarei em seu coração, verdadeiro altar da imolação.

Eis que novamente o medo toma conta do padre. Ele vai, subindo os degraus do altar, subir ao céu; mas, “Quem é digno de subir ao céu, exclama o Rei Profeta, se não aquele que tem o coração puro e as mãos inocentes”. Sem dúvida, o ministro de Deus não avança rumo ao altar com um coração profanado, mas ele sabe que, Aquele do qual ele vai se aproximar é a santidade infinita, que com o olhar encontra mancha entre seus anjos e santos. Ele se recorda desta palavra de um grande doutor, “que o padre no altar deveria poder, por sua santidade, ocupar um lugar de honra no meio dos príncipes da corte celeste”, por isso ele exclama:
Julga-me, ó Deus, e separa a minha causa duma gente não santa. Livra-me do homem iníquo e enganador
Judica-me, Deus, et discerne causam meam de gente non sancta: ab homine iniquo et doloso erue me
Tu que és, ó Deus, a minha fortaleza, porque me repeliste? E porque hei-de eu andar triste, enquanto me aflige o inimigo?
Quia tu es, Deus, fortitudo mea: quare me repulisti et quare tristis incedo, dum affligit me inimicus?
O padre sente que o Senhor pronunciou sobre ele um julgamento de misericórdia, a confiança renasce em seu coração. Ele aproximará do altar, mas precisa que uma luz divina ilumine seus passos. Ele a pede para Deus: “envia-me o socorro da verdadeira luz, que é o Espírito de Deus, e da verdadeira luminosidade, que é seu Filho; pelo favor desses guias me aproximarei desta santa montanha, que é Vós mesmo. Penetrarei em seu santuário que é vosso seio, aonde Jesus Cristo vai se imolar, e entrarei até o altar sublime que lá reside. Vosso verdadeiro altar que é vosso Filho:
Envia a Tua luz e a Tua verdade; estas me conduzirão e me levarão ao Teu santo monte e aos Teus tabernáculos. E aproximar-me-ei do altar de Deus, do Deus que alegra a minha mocidade
Emitte lucem tuam et veritatem tuam: ipsa me deduxerunt e adduxerunt in montem sanctum tuum, et in tabernacula tua. Et introibo ad altare Dei, ad Deum qui lætificat juventutem meam
Pensando em um ministério tão santo, ele teme que Deus não o repare. Sem turvar-se, ele se encoraja e diz:
Ó Deus, Deus meu, eu Te louvarei com a cítara. Por que estás triste, minha alma? E porque me inquietas?
Confitebor tibi in cithara Deus, Deus meus: quare tristis es anima mea, et quare conturbas me? 
Espera em Deus, porque eu ainda O hei-de louvar, a Ele que é a minha salvação e o meu Deus
Spera in Deo, quoniam adhuc confitebor illi: salutare vultus mei, et Deus meus
O nosso auxílio está no nome do Senhor
Adjutorium nostrum in nomine Domine 
Que fez o Céu e a Terra
Qui fecit caelum et terram
É no nome do Senhor que o padre coloca toda sua confiança. Ele sabe que nada é impossível para Aquele que fez o céu e a terra, e que nenhuma indignidade lhe fará um rejeitado, quando na verdade ela é coberta pelos méritos de Jesus Cristo. Ele se os aplica pelo sinal da cruz que ele forma sobre si, pronunciando essas palavras.

Contudo, a alma do padre ainda está sobrecarregada de tristeza. Ele não saberia esquecer, nesse momento, que semelhante ao seu divino Mestre, “ele se tornou maldito para seus irmãos”, e que, sobre seus fracos ombros, ele carrega os crimes do mundo inteiro. Esse pesado fardo, no jardim das Oliveiras, lança em terra, banha de sangue nosso divino Salvador. Sobre o caminho do Calvário, três vezes ele cai sob esse peso esmagador, e esta carga sob o qual se inclina o Deus poderoso, o padre poderia a carregar sem nada temer por sua fraqueza?

Quem permaneceria indiferente em face dessa cena: o padre tendo as mãos juntas e ligadas como um criminoso na presença de seu juiz. Ele não ousa mais olhar o céu que ele saudava antes. Mas, se prostrando profundamente, a face contra a terra, ele, o eleito do Senhor, se bate no peito como o publicano do Evangelho. Escutemos as palavras que saem de sua boca:
Eu pecador me confesso a Deus todo-poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado São Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado S. João Batista, aos santos apóstolos S. Pedro e S. Paulo, a todos os Santos e a vós, Padre, porque pequei muitas vezes, por pensamentos, palavras e obras, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Portanto, rogo à bem-aventurada Virgem Maria, ao bem-aventurado S. Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado S. João Batista, aos santos apóstolos S. Pedro e S. Paulo, a todos os Santos e a vós, Padre, que rogueis a Deus Nosso Senhor por mim 
Confiteor Deo omnipotenti, beatæ Mariæ semper Virgini, beato Michaéli Archangelo, beato Joanni Baptistæ, sanctis Apostolis Petro et Paulo, omnibus Sanctis, et tibi, pater: quia peccavi nimis cogitatione, verbo, et opere: percutiunt sibi pectus ter, dicentes: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michælem Archangelum, beatum Joannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, omnes Sanctos, et te, pater, orare pro me ad Dominum Deum nostrum
Que espetáculo sublime! A Igreja da terra unida à Igreja do céu, segundo a expressão de Tertuliano, forma como que um batalhão de um exército, que cerca a misericórdia divina e lhe faz uma agradável violência. Nos céus, Maria, os anjos, os Apóstolos e todos os santos, prostrados ao pé do trono de Deus, pedem graças para o padre que, humildemente inclinado, espera seu perdão. Enquanto que nós rezamos sobre a terra, nossa oração é repetida por todos os bem-aventurados.
Que Deus onipotente se compadeça de vós, que vos perdoe os pecados e vos conduza à vida eterna.
Misereatur vestri omnipotens Deus, et dimissis peccatis vestris, perducat vos ad vitam æternam.
A estas palavras o padre se levanta. Ele agora pode olhar o céu com confiança, pois Deus lhe perdoou a pedido dos céus e da terra reunidos. Ele vai, então, subir a santa montanha, onde Deus deve descer como sobre um novo Sinai. Enquanto que sozinho com o Senhor ele recita as secretas comunicações de seu amor, os fiéis permanecerão lá em baixo no pé da montanha, assim como outrora estiveram os israelitas. Que eles não se esqueçam que aqueles receberam a ordem de lavar suas vestes, de se purificar, eles mesmos, a fim de serem menos indignos de se aproximar do Sinai onde Deus vai manifestar sua glória! Qual pureza não exige de nós esse altar que se tornará, tão logo, a montanha santa do Calvário! Se qualquer mancha marca nossa alma, as apaguemos pelo arrependimento, e recitemos, por nossa vez, o confiteor com dor e compunção.

A essas palavras – minha culpa – se bate no peito. Esse ato simbólico de arrepender-se, significa que queremos quebrar nosso coração, a fim de que Deus faça dele um novo coração, um coração que possa lhe agradar.

“Pela tríplice repetição do mea culpa, diz Monsenhor Olier, acusamos três tipos de pecados, aqueles do pensamento, das palavras e das obras, cometidos contra as três pessoas da Santíssima Trindade. Na última vez, se diz: mea maxima culpa, pela razão de que os pecados contra o Espírito Santos se redimem dificilmente nesta vida e na outra. Os pecados do pensamento se dirigem ao Pai, aqueles das palavras ao Filho, que é a palavra do Pai; e os pecados das obras ao Espírito Santo, que é o operador contínuo das boas obras em nós”. Que profundidade! Que filosofia nas orações da Igreja!

Tal é a preparação que a Igreja exige do padre e dos fiéis, para melhor se penetrar na grandeza das coisas que vão se passar no altar. Agora, ministro do Senhor, suba com confiança os degraus que vos separam do Santo dos santos:
Se Vos tornardes para nós, Senhor, dar-nos-ei a vida
Deus, tu conversus vivificabis nos 
O Vosso povo alegrar-se-á em Vós
Et plebs tua lætabitur in te
Mostrai-nos, Senhor, a Vossa misericórdia
Ostende nobis Domine, misericordiam tuam  
E dai-nos a Vossa salvação
Et salutare tuum da nobis 
Senhor, ouvi a minha oração
Domine, exuadi orationem meam 
E fazei subir até Vós o meu clamor
Et clamor meus ad te veniat 
O Senhor seja convosco.
Dominus vobiscum. 
E com o vosso espírito.
Et cum spiritu tuo.
Só, então, o padre sobe, ainda tremendo, os degraus do santuário. A terra que ele caminha não é por vez santa? O sigamos com atenção e respeito para estudar os mistérios que vão ali se operar.

Via Dominus Est

O DOMINGO DEVE SER PARA TI DIA DE DESCANSO, DE DEVOÇÃO E DE ALEGRIA

por Pe. MATIAS DE BREMSCHEID

Um dos Santos Padres da Igreja denominou o domingo: “Rei e Príncipe de todos os dias”. Outro opina que a vida sem domingo seria um grande deserto sem oásis. Certamente seria uma vida triste. Pode-se dizer que o domingo é como que a raiz da semana. De uma raiz boa e sã, brotam também galhos, folhas, flores e frutos sãos e bons. De modo análogo, a um domingo cristãmente festejado, sucede uma semana inteira de cunho cristão. Consiste a vida do homem em certo número de semanas, as quais trazem impresso o selo do valor que lhes comunica o domingo, por onde começam. Com muita razão se poderia dizer: assim como for o teu domingo, assim será também toda a tua vida. De que modo deverá, então passar o domingo, para que se torne uma fonte de bênçãos para a tua vida e para a eternidade futura? Eis uma pergunta de grande importância para ti.


O domingo deve ser, antes de mais nada, dia de descanso

O descanso dominical é uma necessidade para o corpo e para a alma. Poderá alguém trabalhar ininterruptamente, todos os dias, nos domingos e dias úteis, por um lapso do tempo; poderá fazê-lo mesmo durante alguns anos; mas, chegará com certeza o tempo em que as forças constantemente ativas entrarão a adormecer, ou se quebrarão de súbito. O descanso que, à tarde se desfruta, após o trabalho diário, e um bom sono pela noite adentro, são de grande proveito para o corpo; mas, quanto à duração não bastam para estabelecer o necessário equilíbrio das forças. Os médicos sustentam muito judiciosamente que, para se manter em pleno vigor, além do pequeno descanso diário, de tempo a tempo, necessita o corpo humano de uma pausa e folga mais longa, um maior relaxamento das forças. Isto se aplica, sobretudo, aos tempos atuais, que, pela crescente concorrência em todos os domínios, despertam em quase todos os homens, até mesmo nos rapazes e nas moças, maior dedicação ao trabalho. Com seu descanso maior e mais longo repouso, é, portanto, o domingo uma verdadeira bênção para a nossa vida corporal. Lord Palmerston, conhecido estadista inglês, conservava ainda, na velhice, grande atividade e vigor, que ele principalmente atribuía ao fato de se haver sistematicamente abstido do trabalho dominical, em todo o percurso de sua longa vida.

O descanso do domingo é em segundo lugar, uma necessidade para o sossego da nossa alma. Precisa também esta de repouso, e talvez ainda mais do que o corpo, para não perecer, nem se entibiar. Isto se ajusta, principalmente, ao nosso tempo. A confusão da vida atual gasta e arruína não só as forças do corpo, mais ainda as da alma. Quantas lutas e contrariedades, quantas agitações e aflições não traz consigo a semana? Deve o homem pensar em tudo, cuidar de tudo, e, muitas vezes, desde os seus mais verdes anos!… Quanta poeira não se vê constrangido a sorver, que a pouco e pouco lhe dificulta e embaraça também a vida espiritual! Quanta coisa se lhe depara, que o torna fraco, impotente, e o arrasta na onda da vulgaridade!

Será para ele um grande benefício, se ao domingo puder sacudir aquela poeira e desviar a lembrança e a preocupação das pequenas coisas; se puder dirigir seus pensamentos e desejos para outras mais altas e maiores, para coisas celestiais e divinas. Então, pensamentos elevados voltarão de novo à alma; pensamentos, que a conduzirão a uma atmosfera melhor e mais pura; pensamentos, que a elevarão e lhe darão forças para se preocupar com o que é nobre e bom. Não se afrouxará facilmente este laço feliz e abençoado, se cada qual se limitar a ocupar-se diariamente com seu trabalho e na sua imperturbável serenidade puder somente dedicar-se aos de fora?

Sem o descanso e a elevação da alma ao domingo, estará o homem em perigo de recair na podridão espiritual. O descanso dominical é, finalmente, uma necessidade para a vida da família. A vida de família só será bela e cheia de bênçãos, quando for uma vida contente e feliz, quando o laço da unidade e do amor estreitar fortemente todos os seus membros.

– Em consequência, os membros isolados da família, não se tornarão, com o tempo, cada vez mais estranhos?

– Aquelas relações cordiais que devem reinar entre pais e filhos, não se esfriarão  pouco a pouco?

– Deplorável seria isto para ambas as partes. O domingo, portanto, no qual, segundo o possível, se descansa do trabalho, não será grande benefício para a família?

É então que, mais do que durante a semana, poderão pertencer-se mutuamente e discutir entre si, com serenidade de espírito, todos os interesses da casa; reunidos em oração, pedirão a Deus a paz e felicidade eterna e repartirão entre si felicidade e descanso no amor. Aquele laço de unidade e cordial reciprocidade não se tornará desse modo fortemente apertado, e a felicidade íntima da família visivelmente acrescida?

O domingo é, em segundo lugar, dia de piedade e oração

Não tenho dúvida em acreditar que também nos dias da semana, fazes a tua oração, principalmente pela manhã e à noite, e que ainda com boa e santa intenção te entregas aos trabalhos diários e aceitas as contrariedades da vida, como se tudo pertencesse ao serviço divino. No entanto, isso não te basta; hás de consagrar, exclusivamente, um dia da semana, a Deus e a salvação de tua alma. Tudo o que és e tudo o que tens, a Deus deverás agradecê-Lo. Será, porventura, demasiado, que procures dedicar a Deus um dia da semana, santificando-o pela piedade?

Deus é infinitamente grande, infinitamente perfeito e bom; a eternidade toda não te será bastante para louvá-Lo, exaltar e amar; não será, pois muito justo e razoável que, ao menos uma vez por semana, O louves mais do que nos outros dias e Lhe rendas ações de graças pelos seus infinitos benefícios? Deus é teu Pai, infinitamente amoroso e digno de se amado; e tu, que és sua filha, não poderás, uma vez por semana, entreter-te com este Pai, mais demoradamente e de maneira familiar? Não deverias de antemão alegrar-te neste colóquio com Deus, como o bom filho, ou boa filha, se alegra naqueles momentos em que pode comodamente palestrar com seu bom pai e sua querida mãe?

Eis como deves compreender (ou empregar) o domingo, para que te seja um dia de alegria e delícias. Se tiveres este elevado conceito de domingo, então assistirás antes de tudo, regularmente, ao santo Sacrifício da Missa. Não há nenhum ato em que Deus mais se compraza, do que no Santo Sacrifício que seu próprio Divino oferece pelo ministério do sacerdote, na Santa Missa. Não existe, portanto, nenhum outro ato pelo qual possas honrar mais a Deus e santificar o Domingo. Seja, pois, esta a tua atual e permanente resolução: quero, cada domingo, sempre que me for possível, assistir com devoção e piedade a uma Santa Missa. Ouve também, com boa e piedosa disposição, a palavra de Deus. A pregação é para todos nós importante, principalmente para a mocidade, que, hoje mais do que nunca, está exposta aos maiores perigos para a sua fé e as suas virtudes. Se a mocidade negligenciar a audição da palavra de Deus, então, bem depressa e facilmente se tornará tíbia e frouxa na sua santa fé e nas suas virtudes cristãs. Não foi em vão o que disse o Divino Salvador: “O homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).   Recebe também, com boa preparação e piedade, os santos Sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Quanto mais frequentemente o fizeres, tanto melhor para ti. Lograrás, então, graças cada vez mais abundantes para o combate contra o pecado e para a prática das virtudes. Permite-me ainda aconselhar-te a assistires, depois do meio dia, ou à noite, em alguma igreja, a algum ato ou função religiosa; ou em tua própria casa, por algum tempo, leres um livro; ou, por amor de Deus, visitares um doente, ou dares uma esmola a um pobre. Se santificares assim o domingo, como Deus não ficará contente e que de bênçãos abundantes não derramará sobre ti!

O domingo deve ser, finalmente, dia de alegria

Por certo, aqui não me refiro àquelas alegrias e prazeres ruidosos e dissolutos, que não são verdadeiras folgas, nem verdadeiro descanso e desafogo, antes fatigam o corpo e a alma; não aludo àqueles pecaminosos e perigosos prazeres que destroem todas as bênçãos do domingo e convertem o dia do Senhor em dia de Satanás.

Quando digo que o domingo deve ser dia de alegria, refiro-me, antes de tudo, àquela alegria e àquela elevação espiritual e interior… Falo também da alegria que experimentas numa agradável conversa com os teus queridos parentes, na visita a uma boa amiguinha ou conhecida, numa serena e moderada recreação com outras companheiras ou num passeio coletivo que te proporciona o ensejo de admirares os encantos da natureza.

São alegrias que poderás lograr depois dos trabalhos e fadigas de toda a semana; alegrias que te fazem forte e disposta para os trabalhos de uma nova semana; alegrias, que contêm uma abundância de bênção para a vida doméstica, quando se desfrutam de maneira justa e razoável, depois de se ter devota e piedosamente, assistido ao serviço de Deus, ou praticado uma boa ação. Muito a propósito poderei citar aqui as palavras do grande Apóstolo: Alegrai-vos incessantemente no Senhor; outra vez digo. Alegrai-vos! (Fl 4,4). Eis o que o domingo deve ser para ti: dia de descanso, de devoção, de alegria.

 Retirado da obra “Donzela Cristã”.

NECESSIDADE DE SE ENTENDER AS ORAÇÕES E AS CERIMÔNIAS DA SANTA MISSA

Extraído do Catecismo da Santa Missa

É necessário conhecer profundamente a Missa?
Um ato de religião praticado com tanta frequência, tão precioso em suas graças, e tão consolador em seus frutos, é desejoso que se conheça o mais possível, na medida das nossas capacidades.
Como podemos conhecer mais profundamente a Santa Missa?
Podemos conhecê-la mais profundamente estudando seus mistérios, seus dogmas, a moral que ela encerra, e até os menores detalhes de suas cerimônias e orações.
Para que devemos conhecer tudo isto?
Para que a Missa, que é o centro do culto católico, desperte os mais vivos sentimentos de religião e de piedade.
Que mais devemos conhecer da Missa?
Devemos conhecer suas palavras sagradas em que encontramos todo o sabor da unção de que estão repletas; cada ação e cada movimento do sacerdote; cada palavra que ele pronuncia para lembrar nossa alma e nosso coração que um Deus se imola para nós, e que nós também devemos nos imolar com Ele e por Ele.
Com que estado de espírito devemos assistir a Santa Missa?
Devemos deixar fora do santuário a indiferença e o tédio, a dissipação e o escândalo, e sermos, no templo, adoradores em espírito e verdade.
Deus exige de todos os fiéis uma instrução profunda e detalhada da Missa?
Não. Deus supre a sensibilidade da fé ao conhecimento que não foi possível adquirir e jamais irá desprezar o sacrifício de um coração arrependido e humilhado. (Sl 50, 19)
Quais as disposições essenciais e suficientes para aproveitarmos do santo sacrifício da Missa?
Devemos assistir a Santa Missa com a alma penetrada de dor pelas faltas cometidas, e nos aproximarmos confiadamente deste trono da graça, unindo-nos à vítima, Nosso Senhor Jesus Cristo, e à intenção da Igreja, na pessoa do sacerdote, e por seu ministério.
Que mais é salutar conhecer?
Devemos saber as grandes vantagens espirituais que um conhecimento mais íntimo da Santa Missa proporciona aos fiéis, com a explicação literal de suas orações e cerimônias.
A Igreja, acaso, ocultaria aos fiéis algum mistério da Santa Missa?
Não. Na Igreja nada há de oculto e ela jamais pretendeu ocultar qualquer mistério aos fiéis, seja da Santa Missa, como de qualquer outra cerimônia litúrgica, como será demonstrado neste Catecismo.
Qual a principal preocupação da Igreja quanto aos mistérios da Missa?
A Igreja somente teme que o pouco discernimento sobre os mistérios possa causar má interpretação às palavras neles contidas.
Como a Igreja procura evitar possíveis más interpretações?
Apresentando sempre explicações claras dos mistérios aos fiéis.
Há orientação explícita da Igreja para explicar os mistérios da Missa aos fiéis?
Sim. Os Concílios de Mogúncia, de Colônia e de Trento, como mais adiante veremos, ordenaram claramente que se prestassem aos fiéis as explicações necessárias para o melhor entendimento possível dos mistérios da Santa Missa, evitando, assim, más interpretações.
Que outras medidas tomou a Igreja para facilitar o entendimento dos mistérios da Missa?
A Igreja colocou à disposição de todos os fiéis o ordinário da Missa, e impôs como dever dos sacerdotes a explicação das orações e das cerimônias da Santa Missa.
Além do ordinário da Missa, há outras obras específicas sobre o Santo Sacrifício?
Sim; há inúmeras obras ao alcance dos fiéis sobre a Santa Missa, publicadas através dos séculos.
A explicação da Missa é dever somente dos sacerdotes?
Não. Além dos sacerdotes é dever também dos fiéis, e seremos felizes mesmo se, com pouco conhecimento, colocarmos algumas pedras nos muros de Jerusalém, enquanto outros manejam com mão hábil a espada da palavra santa para cuidar da sua defesa.
Qual o melhor método para nos aprofundarmos no conhecimento da Santa Missa?
Para compreendermos exatamente o verdadeiro sentido das orações da Santa Missa, é necessário conhecermos todas, palavra por palavra, o significado de cada termo, dos dogmas e dos mistérios nelas contidos.
Que mais é necessário conhecer sobre as orações?
É preciso, também, conhecer os objetivos da Igreja ao estabelecer as orações, bem como deduzir ao máximo possível as intenções dos santos padres, dos antigos escritos eclesiásticos e da tradição. Para isto torna-se necessária também uma explicação histórica, literal e dogmática de tudo o que constitui a Missa.

A MISSA TRIDENTINA

A Missa Tridentina consiste na celebração da Santa Missa segundo o rito promulgado pelo Papa São Pio V no ano 1570 por meio da Bula Quo Primum Tempore.
A Missa de São Pio V tem suas origens nas mais antigas tradições apostólicas e alimentou a alma dos santos mais importantes da história da Igreja durante vários séculos.
Este rito provém visivelmente do coração de nossa Santa Madre Igreja e é o fruto de uma longa tradição. Expressa santamente a doutrina católica do Santo Sacrifício da Missa e foi canonizado por São Pio V definitivamente. Ele o estabeleceu como a maneira oficial de rezar a Santa Missa, válida para todos os padres de rito romano de todos os tempos.

Elementos da Missa Tridentina

A Missa Católica Tradicional chamada Missa de Sempre, Missa Tridentina ou Missa de São Pio V é composta por duas partes, a saber, a parte essencial, que são os elementos instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo, e as orações, palavras e cerimônias que a acompanham.
Os elementos essenciais da Santa Missa, que foram instituídos pelo próprio Jesus na Última Ceia e são:

  • A matéria: pão e vinho;
  • A forma, ou seja, as palavras: “Este é o meu Corpo” e “Este é o Cálice do meu Sangue…”;
  • Um padre validamente ordenado que,
  • tenha a intenção de fazer o que a Igreja faz na confecção deste Sacramento.
As palavras e cerimônias que acompanham esses elementos essenciais se desenvolveram através dos séculos até alcançar a forma que chegou aos nossos dias.
Todas as orações e cerimônias em torno às palavras da consagração foram introduzidas pela Santa Igreja para realçar a majestade deste grande mistério, para instruir-nos, aumentar nossa fé e inflamar nossa devoção. “Não existe em toda a Cristandade um rito tão venerável como o do Missal Romano” diz um dos mais sábios liturgistas (Fortescue).


"Daria até a última gota de meu sangue pela menor prática da Igreja." Santa Teresa
História das Cerimônias da Santa Missa
Durante os séculos I e II, essas palavras de Cristo estiveram rodeadas por uma liturgia inicial que, pouco a pouco, foi germinando no Oriente e no Ocidente do Império Romano. Todas as partes principais da Missa apareceram já no século III e, no século IV, o rito romano ficou plenamente conformado, durante o pontificado do Papa São Dâmaso (366-384).
Contudo, até São Gregório Magno (590-604) não existia um Missal Oficial com os textos das missas do ano. O líber Sacramentorum foi redigido, por encargo de São Gregório no princípio de seu pontificado, para uso das Stationes que tinham lugar em Roma, quer dizer, para a liturgia pontifical. Esse Missal contém praticamente a mesma Missa Tradicional tal como chegou a nossos dias, posto que as modificações ou adições que São Pio V (1566-1572) efetuou ao codificar seu Missal Romano foram muito pequenas.
Portanto, podemos assegurar que a Missa que atualmente é chamada de São Pio V não é outra senão o rito romano tal qual o encontramos, em suas partes mais importantes, no século IV, tendo sido posteriormente escrito em forma de Missal pela primeira vez por São Gregório Magno.
Cânon da Missa

O Cânon da Missa, excetuados alguns retoques feitos por São Gregório Magno, alcançou com São Gelásio I (492-496) a forma que conserva até hoje. Os Romanos Pontífices não deixaram de insistir desde o século V sobre a importância de adotar o Canon Missae Romanae, dado que ele remonta a ninguém menos que o Apóstolo São Pedro.
Com efeito, por causa da lei do arcano (que obrigava, na época das perseguições, a manter sigilo especial sobre as principais verdades da fé), os textos mais antigos do Cânon da missa datam do século IV, mas, o Concílio de Trento nos ensina que este remonta aos próprios apóstolos.
Codificação feita por São Pio V
Assim, São Pio V codificou a Missa Romana na sua forma mais pura segundo a indicação do Concílio de Trento (1545-1563):


"O sacrifício cumpra-se segundo o mesmo rito para todos e por todos, de forma que a Igreja de Deus não tenha mais do que uma mesma língua… que os missais sejam restaurados segundo o uso e costumes antigos da Missa Romana”.
O Missal assim restaurado foi promulgado de forma particularmente solene no dia 19 de Julho de 1570 pela Bula Quo Primum Tempore. A bula precisa bastante claramente que não estabelece um novo rito, mas “um missal revisado e corrigido”.
Por que o Latim?
O uso do latim “é um belo e manifesto sinal de unidade, além de ser um antídoto efetivo contra qualquer corrupção da verdade doutrinal” (Papa Pio XII, Encíclica Mediator Dei).
O objetivo de São Pio V ao mandar codificar a Missa (no século XVI) foi o de proteger a unidade da Igreja, assegurada pela unidade no culto católico. Para evitar a disparidade de rito, contribuiu muito a uniformidade no idioma, preservando a Igreja não somente contra o cisma mas também contra a possível introdução de erros doutrinais.
Sinal de unidade e universalidade

A Missa em latim não é uma maneira seletiva ou nova de celebrar, nem é elitista ou exclusivista, muito pelo contrário, é o modo católico (universal, em grego), apto para ser escutado por qualquer pessoa batizada do mundo sem importar sua nacionalidade.
Durante séculos, um católico podia assistir à Missa em qualquer lugar do mundo e sempre encontrava a mesma forma universal de rezá-la e, assim, de cumprir com o preceito dominical. Se pudéssemos viajar através do tempo, encontraríamos a mesma verdade: uma Missa rezada por um sacerdote católico que vivesse em Roma no ano 570 seria igual a uma rezada por um sacerdote que vivesse em Nagasaki em 1940 ou a de um padre da FSSPX no ano 2017.
Este fato reflete claramente duas das quatro notas da Igreja Católica: sua unidade e sua catolicidade (universalidade) em relação ao tempo e ao espaço.
Antídoto contra os erros doutrinais

A história nos demonstra que os vocábulos dos idiomas mudam de significado com o tempo e que surgem modismos provenientes do linguajar popular. Mas o latim, sendo uma língua morta, não se modifica através dos tempos e lugares, de modo que seu uso auxilia na perpetuidade e universalidade dos ritos católicos, presentes em todas as nações do mundo e sob uma enorme diversidade de idiomas, costumes e tempos.
Essa característica também ajuda a proteger a fé contra os erros doutrinais. Com efeito, o Papa Pio XII declarou expressamente que a Sagrada Liturgia está intimamente vinculada às verdades da Fé Católica e que, portanto, deve conformar-se a ela e expressar essas verdades. De tal forma que, assim como não podemos, sob o pretexto de acomodar a liturgia às exigências dos tempos modernos, comprometer nenhuma verdade de fé, é necessário também conservar inalterável a liturgia para que ela continue salvaguardando essa integridade da fé (Encíclica Mediator Dei).
Até os protestantes reconheceram a conexão entre os ensinamentos da Igreja e a Missa, a tal ponto que Lutero acreditou que, eliminando a Missa, poderia derrotar o Papado.
Os primeiros idiomas usados na Missa

A Missa era rezada originalmente em aramaico, que era a língua falada por Cristo e pelos Apóstolos. As expressões: “Amém, Aleluia, Hosana e Sabbaoth”são palavras aramaicas que ainda existem na Santa Missa.
Quando a Igreja se estendeu por todo o mundo pagão no século I, adotou o grego em sua liturgia, porque este era o idioma internacional do Império Romano, como o inglês o é hoje. O uso do grego continuou até o século II e parte do século III. O Kyrie eléison e o símbolo litúrgico “IHS” (derivado da palavra Jesus em grego) são uma prova do uso deste idioma na liturgia.
Contudo, ao redor do ano 250, a Missa já era rezada geralmente em latim na parte ocidental do Império Romano, incluindo as cidades do Norte da África. Com a fragmentação do Império e as invasões bárbaras, o latim deixou de ser uma língua falada entre os séculos VII e IX; porém, a Missa continuou sendo rezada em latim, porque grande parte da liturgia havia sido criada nesse idioma. Os Papas e os outros Santos Padres não viram nenhuma necessidade de adotar as novas línguas vernáculas que estavam surgindo ao redor do mundo conhecido.
O uso do latim foi também um meio providencial, porque, apesar de ser uma língua morta, serviu como meio de comunicação internacional e como sinal de unidade da Igreja e do continente europeu através dos séculos.

O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA

PELAS ORIGENS DA SANTA MISSA

Francisco Lafayette de Moraes

 - APRESENTAÇÃO


 Este trabalho é a ordenação de trechos de várias obras, de vários autores (ver Bibliografia), que mostraram e provaram que a Missa enquanto sacrifício estava predita desde o Antigo Testamento, e, ainda, que Jesus anunciou - prometeu - e - instituiu o sacrifício-sacramento, tendo os Santos Padres da Igreja, desde os primórdios do Cristianismo, sempre ensinado aquilo que hoje é dogma de fé: Missa é sacrifício com a presença real (física) da Sagrada Vítima. 


Se os dogmas relativos à Missa — isto é, o de ser a Missa um verdadeiro sacrifício, o da presença real, e o relativo ao sacerdócio ministerial — só foram formulados pelo Concílio de Trento, isto não significa que aquele Concílio do século XVI formulou uma doutrina nova, mas que tornou explícita a doutrina que até então havia sido sempre tacitamente aceita, e o fez em função da heresia protestante que negou, como ainda hoje nega, que a Missa seja  sacrifício, querendo eles que seja um simples memorial do Senhor; negam, ainda, os protestantes a “presença real” e o “sacerdócio ministerial”.


Hoje, depois do Concílio Vaticano II, quando muitos prelados da Igreja Católica, e até mesmo altos prelados, por terem assimilado a heresia protestante, apresentam a Missa como um memorial da  Ceia do Senhor, entendi ser proveitoso compilar, para ajudar a combater a heresia progressista, o que outros autores com sabedoria e profundidade já haviam escrito para demonstrar que a Missa enquanto sacrifício está inserida no Deposito da Fé católica, estando predita no Velho Testamento -e- confirmada no Novo Testamento.
Rio de Janeiro, no ano de 1992.

ÍNDICE
 
01 - EUCARISTIA: SACRIFÍCIO E SACRAMENTO
02 - SACRIFÍCIO É FAZER O SAGRADO
03 - OS SACRIFÍCIOS DA ANTIGA LEI
04 - A ANTIGA LEI É FIGURA DA NOVA LEI
05 - O SACRIFÍCIO DA MISSA É PREFIGURADO DOIS MIL ANOS ANTES DE INSTITUÍDO
06 - O SACRIFÍCIO DA MISSA É PROFETIZADO
07 - DEUS ANUNCIA A SUBSTITUIÇÃO DOS ANTIGOS SACRIFÍCIOS DA LEI MOSAICA
08 - CHEGA O TEMPO DO NOVO SACRIFÍCIO
09 - JESUS CRISTO ANUNCIA UM NOVO SACRIFÍCIO
10 - JESUS CRISTO PROMETE A EUCARISTIA
11 - JESUS CRISTO OFERECE — ANTES DA CRUZ — O NOVO SACRIFÍCIO
12 - O SACRIFÍCIO DA CRUZ
13 - O SACRIFÍCIO DA CRUZ É ÚNICO. POR QUE RENOVÁ-LO?
14 - O SACRIFÍCIO DA CRUZ E SUAS MODALIDADES
15 - O SACRIFÍCIO DA MISSA
16 - O SACRIFÍCIO DA MISSA NÃO É A MISSA
17 - O SACRIFÍCIO DA MISSA É REALIZADO NA DUPLA CONSAGRAÇÃO
18 - O SACRIFÍCIO DA MISSA SEGUNDO SÃO PAULO
19 - O SACRIFÍCIO DA MISSA SEGUNDO OS SANTOS PADRES DA IGREJA
20 - O SACRIFÍCIO DA MISSA É O MESMO SACRIFÍCIO DA CRUZ
21 - SUBAMOS O CALVÁRIO
BIBLIOGRAFIA

01 - SACERDOTE CATÓLICO - “LA SANTA MISA Y LA NUEVA MISA” - Revista ROMA AETERNA n.116, SET, 1990.
02 - JESUS SOLANO - “TEXTOS EUCARÍSTICOS PRIMITIVOS” - TOMO I - 1978 - BIBL. AUTORES CRISTIANOS (BAC) - ESPANHA.
03 - DOM GASPAR LEFEBVRE - “MEU MISSAL QUOTIDIANO” - 1965 - BÍBLICA - BRUGES/BÉLGICA.
04 - Padre PIERRE LE BRUN - “EXPLICATION DE LA MESSE” - 1949 (primeira edição em 1716) - LES EDITIONS DU CERF - PARIS.
05 - Padre DES GRAVIERS - “PARECER SOBRE A ‘RESTAURAÇÃO’ DA MISSA” APÓS O VATICANO II” - Revista PERMANÊNCIA - MAR/ABR - 1983.
06 - Monsenhor CH. GUAY - “L`ÉGLISE ET LES SACREMENTS” - Revista COMMUNICANTES, n.35, OCTOBRE, 1990.
07 - Monsenhor ÁLVARO NEGROMONTE - “NOVO TESTAMENTO” - 3a. Edição - 1961 - LIVRARIA AGIR EDITORA - RIO DE JANEIRO.
08 - CONCÍLIO DE TRENTO - EXTRATO DE CANONES E DECRETOS - SEM DATA  - “Imprimatur” de 15-07-1953 - EDITORA VOZES - PETRÓPOLIS.
09 - Mons. Marcel. LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 - EDIT. PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO
10 - GUSTAVO CORÇÃO - “AS FRONTEIRAS DA TÉCNICA” - 5a. Edição - 1963 - LIVRARIA AGIR EDITORA - RIO DE JANEIRO.
 11 - “TERCEIRO CATECISMO DA DOUTRINA CRISTÔ -  1976 - EDITORA VERA CRUZ
 
OBSERVAÇÃO:
Cada OBRA, quando transcrita e/ou citada, está indicada em nota.

01
EUCARISTIA: SACRIFÍCIO E SACRAMENTO

Nosso Senhor Jesus Cristo, na Última Ceia, ao instituir a Eucaristia, transubstanciou o pão em seu Corpo e o vinho em seu Sangue, um separado do outro, e ofereceu ali o mesmo sacrifício que realizaria na Cruz, onde o seu Sangue foi separado do seu Corpo, derramado por nós, em remissão dos pecados. Depois de ter-Se imolado na Santa Ceia, Ele se deu a Si mesmo aos Apóstolos ao levá-los a participar da consumação do seu Corpo e do seu Sangue. A Eucaristia é, assim, ao mesmo tempo, sacrifício e sacramento.
EUCARISTIA ENQUANTO SACRIFÍCIO
Enquanto sacrifício a Eucaristia é o Sacrifício da Missa, o sacrifício da Nova Lei no qual Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo ministério do sacerdote, se oferece a Si mesmo a Deus, de maneira incruenta, sob as aparências do pão e do vinho.
EUCARISTIA ENQUANTO SACRAMENTO
Enquanto sacramento a Eucaristia é o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é dado àqueles que O querem, e podem, receber como alimento espiritual.

02
SACRIFÍCIO É FAZER O SAGRADO 

A religião é um culto que nos liga a Deus por um perfeito sujeitamento de nós mesmos ao Ser supremo, e que nos faz relacionar à Sua glória tudo o que nós somos e tudo o que nós fazemos; e a religião nos faz cumprir, de modo particular, este dever indispensável pelo sacrifício, que é uma oblação feita a Deus para reconhecer seu soberano domínio sobre tudo o que foi criado.
O sacrifício é, portanto, a expressão privilegiada da virtude da religião e, segundo a etimologia da palavra, sacrifício consiste em fazer o sagrado (sacrum facere), diz-nos São Tomás de Aquino, isto é, separar para Deus.
Os homens sempre foram inspirados, pelas luzes da razão natural, a considerar o sacrifício como o primeiro de todos os atos essenciais à religião.
De fato, desde a origem da humanidade, vemos o homem oferecer a Deus sacrifícios e exprimir desse modo sua religião. Mesmo depois do pecado original, permaneceu no homem a consciência de um dever: o de render culto ao Senhor. Tão universal era essa voz interior que não houve um tempo, remoto que fosse, ou região por demais longínqua, em que não se prestasse um culto e não se oferecesse um sacrifício a Deus.
Assim, Caim e Abel ofereceram a Deus frutos da terra e animais e Noé saindo da arca levantou um altar, tomou de todos os animais puros e os ofereceu ao Senhor em holocausto sobre aquele altar.
O sacrifício exterior consiste, pois, em oferecer a Deus uma coisa sensível e exterior para ser destruída ou para que sofra uma mudança qualquer, o que é feito por quatro razões que são os quatro fins do sacrifício:
8 reconhecer o soberano domínio de Deus sobre todas as criaturas;
8  reconhecer a nossa dívida para com a justiça divina e obter o perdão dos pecados;
8  agradecer a graça recebida; e
8  pedir a graça que necessitamos.
03
OS SACRIFÍCIOS DA ANTIGA LEI

TIPOS - FINALIDADES - COMO ERAM FEITOS
 
Sob a Lei de Moisés havia quatro sacrifícios: o holocausto, o sacrifício propiciatório, o sacrifício eucarístico e o sacrifício impetratório.

HOLOCAUSTO

As vítimas eram oferecidas em holocausto em reconhecimento ao soberano domínio de  Deus sobre todas as criaturas. O holocausto consistia em queimar a vítima de tal forma que ninguém a pudesse comer, para render, por essa consumação total, uma homenagem plena e sem reservas ao soberano domínio de Deus.

SACRIFÍCIO PROPICIATÓRIO

O sacrifício propiciatório era oferecido para a expiação de qualquer pecado e de forma a tornar Deus propício. Este sacrifício era também denominado “hóstia pelo pecado”, sendo a vítima muitas vezes unida ao holocausto, e essa vítima era então dividida em três partes, sendo que uma era consumida sobre o altar dos holocaustos, a outra era queimada fora do acampamento, e a terceira era comida pelos sacerdotes. Aqueles que ofereciam as vítimas pelos seus pecados não as podiam comer; e quando os sacerdotes ofereciam  por eles mesmos ninguém as consumia.

SACRIFÍCIO EUCARÍSTICO 

O sacrifício eucarístico era oferecido para agradecer a Deus qualquer favor considerável que fosse recebido. Eram sacrifícios de louvor, de ação de graças. 
 
SACRIFÍCIO IMPETRATÓRIO

O sacrifício impetratório era feito para pedir a Deus qualquer graça importante.
Os sacrifícios eucarísticos e impetratórios, também chamados de “pacíficos”, se distinguiam da “hóstia pelo pecado” apenas pelo fato de que o povo e os sacerdotes deviam participar consumindo uma parte da vítima.
 
SACRIFÍCIOS DESAGRADÁVEIS A DEUS

Ainda que esses sacrifícios fossem ordenados pela lei divina, eles não passavam de sinais incapazes, por eles mesmos, de agradar à Deus.
Quando esses sacrifícios eram oferecidos por santos como haviam sido Abel, Abraão, Job e todos aqueles homens de fé que haviam vivido na espera do Messias, então tais sacrifícios eram agradáveis a Deus que os recebia como um  suave aroma, segundo a expressão da Escritura.

Mas quando os sacerdotes se limitavam à cerimonia exterior, alijando do sacrifício o espírito que lhe trazia todo o mérito, os holocaustos não podiam agradar a Deus, pois, por mais atenção que os sacerdotes pudessem ter na escolha de animais sem mancha e sem defeito, tais sacrifícios não passavam de simples figuras inteiramente vazias e inanimadas.

E por serem sacrifícios que não agradavam a Deus, Santo Agostinho, no seu décimo-sétimo Livro da Cidade de Deus, referindo-se ao santo Sacrifício da Missa, diz: “Este Sacrifício foi estabelecido para tomar o lugar de todos os sacrifícios do Antigo Testamento, para tomar o lugar dos sacrifícios da Antiga Lei.
04
A ANTIGA LEI É FIGURA DA NOVA LEI 
 
As personagens e toda a história do Antigo Testamento mais não foram que preparação e anúncio daquilo que Cristo e a sua Igreja deveriam realizar, quando chegasse a plenitude dos tempos e, por isso mesmo, na história do povo judeu estão consignados os desígnios de Deus acerca da salvação de todo o gênero humano:
8  o afastamento de Esaú em benefício de Jacob mostra que não é a linhagem terrestre que importa, mas a escolha gratuita de Deus, que faz os eleitos;
8  José, vendido por seus irmãos e salvando o Egito, é Jesus salvando o mundo, depois de ser rejeitado e traído pelos seus;
8  Moisés, que arranca o seu povo à escravidão, e o conduz a terra prometida, é Jesus que nos liberta do cativeiro do pecado e abre as portas do Céu;
8  o gesto de Abraão, que se prepara para imolar o filho, é o prenúncio do sacrifício que Deus exigirá a seu próprio Filho, para expiação das faltas cometidas pela humanidade; e
8  Isaac, destinado à imolação e arrancado depois à morte, é a figura de Jesus, morto e ressuscitado.
O sacrifício prefigurado em Abraão e Isaac foi concretizado no Sacrifício da Cruz e é continuado pelo Sacrifício da Missa, que é o Sacrifício da Nova Lei.

05
O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA É PREFIGURADO DOIS MIL ANOS ANTES DE INSTITUÍDO

Dentre todas as figuras da  Eucaristia, enquanto sacrifício, existentes no Antigo Testamento nenhuma é tão recordada pela tradição como o sacrifício de pão e vinho oferecido por Melquisedeque. Este relato do Gênesis está, por isso mesmo, apresentado mais abaixo e também, por força de uma razão ainda maior, porque nos  Salmos e no Novo Testamento se diz expressamente de Nosso Senhor Jesus Cristo que Ele é sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. Com efeito, a Sagrada  Escritura relaciona a oblação que Jesus fez de seu Corpo e Sangue, na Última Ceia, ao Pai, com o fato de ser Ele sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque, como O chamou o rei David. De modo que deve ser afirmado que a oblação de Melquisedeque foi verdadeiro tipo do sacrifício eucarístico, o que vale dizer que aquela não é apenas uma oblação semelhante, mas que Deus dispôs que Melquisedeque a fizera e assim nos fosse narrada no Gênesis, para que tivéssemos uma autêntica prefiguração da Eucaristia.
 
Diz o Livro do Gênesis:
18-Então, Melquisedeque, monarca de Salem, tomou pão e vinho, pois  era sacerdote do Deus Altíssimo, 19 os benzeu, exclamando: ‘Bendito Abraão do Deus Altíssimo, criador do céu e da  terra, 20 e bendito seja Deus Altíssimo, que entregou  os teus inimigos em tuas mãos!’ Depois do que Abraão lhe deu o dízimo de tudo”. 
 
Regressava Abraão depois de derrotar vários reis, que haviam aprisionado a seu sobrinho Lot e tudo que ele tinha, e Melquisedeque, rei e sacerdote (monarca de Salem...  sacerdote do Deus Altíssimo), saiu a seu encontro, ofereceu a Deus um sacrifício de pão e vinho que logo deu em convite a Abraão e aos seus e por fim abençoou a Abraão. 

A divina Providencia, uns dois mil anos antes da efetiva instituição da Eucaristia, já havia tido o cuidado de figurar este Sacrifício e este Convite, que havia de ser o centro do culto cristão: o santo Sacrifício da Missa e o Sacramento da Comunhão.
06
O SACRIFÍCIO DA MISSA É PROFETIZADO POR DAVID 

O rei David dá a Jesus Cristo, no salmo 109, o título de Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque, porque nosso divino Salvador irá empregar o pão e o vinho no Sacrifício da  Nova Aliança, como outrora o havia feito Melquisedeque. 

O rei profeta O chama Padre eterno porque pai Ele sempre será e porque o sacrifício que Ele irá instituir continuará a existir até o fim dos tempos graças ao sacerdócio católico.
POR MALAQUIAS
O profeta Malaquias diz, no primeiro capítulo, versículo 11, que “depois do nascer e até o pôr do sol, será oferecido, em toda parte (em  todo  lugar) um sacrifício puro e sem mancha à majestade do Altíssimo”.
POR JEREMIAS
O profeta Jeremias, no capítulo 33, versículo 18, profetiza que “nunca se verá faltar os sacerdotes e os sacrifícios”.

E é a Igreja Católica, pelo ministério dos seus sacerdotes, que oferecerá até o fim dos tempos, em todos os lugares, o Sacrifício da Cruz, perpetuado pelo santo Sacrifício da Missa, conforme as profecias de David, Malaquias e Jeremias.

07
DEUS ANUNCIA A SUBSTITUIÇÃO DOS ANTIGOS SACRIFÍCIOS DA LEI MOSAICA
 
Malaquias, cronologicamente o último dos profetas chamados menores do Antigo Testamento, escreveu, de acordo com todos os dados, na época de Esdras e Nehemias, nos meados do século V antes de Cristo, 500 anos antes da vinda do Senhor. 

No começo da profecia de Malaquias, Deus insiste no amor que tem ao seu povo e, por sua vez, nos pecados daquele povo que explicavam os sofrimentos que haviam caído sobre ele. Refere-Se antes de tudo aos pecados dos sacerdotes os quais, contrariando as prescrições legais, ofereciam a Deus sacrifícios de animais defeituosos. O Senhor anuncia que essas oblações não O agradam e que em lugar delas há de vir uma oblação extremamente pura que será oferecida a Deus em todo lugar, entre as nações; e os termos empregados mostram que se trata de uma “oblação sacrifical” e indicam, principalmente, a oblação de um sacrifício incruento. Além disso, tendo em vista o conhecimento universal de Deus e uma vez que irão ser oferecidos sacrifícios agradáveis a Deus entre os gentios, fica caracterizado que Malaquias se refere aos tempos messiânicos.

Uma vez que toda a ordem do Antigo Testamento tinha em vista a ordem do Novo Testamento, dispôs admiravelmente o Espírito Santo que sua última profecia naquele Testamento se referisse à Sagrada Eucaristia, a qual, continuando o Sacrifício da Cruz, irá constituir o centro da vida cristã. Também é significativo que esta profecia se encontre em Malaquias, aquele que tão decididamente insistiu no amor de Deus a seu povo: “Os tenho amado”, declara o Senhor Deus (Javeh).
 
Nos versículos 10 e 11 do capítulo 1 de Malaquias temos:
10...  Minha afeição não está  em vós, diz o Senhor Deus dos Exércitos e eu não receberei a oblação que vem de vossas mãos. 11 Eis que desde o nascer do sol até seu ocaso sacrificam a Mim em todo lugar e oferecem em  meu nome uma oblação toda pura, pois grande é o meu nome em todas as nações”.
 
Os mais antigos documentos cristãos têm uma predileção por esta profecia de Malaquias, cujo eco foi recolhido pelo Concílio de Trento, ao dizer, a respeito do Sacrifício da Missa: “E esta é certamente aquela oblação pura, que não pode ser manchada por qualquer indignidade ou malícia dos ofertantes, a qual foi predita pelo Senhor, por Malaquias, que havia de ser oferecida pura, em todo lugar, ao seu nome, o qual havia de ser grande entre as gentes”.
08
CHEGA O TEMPO DO NOVO SACRIFÍCIO 
 
O espírito que devia animar todas as cerimônias religiosas diminuía dia a dia, e a irreligião e a estupidez chegaram ao ponto culminante imediatamente antes da chegada do Messias. O que, de fato, esperar dos fariseus que se detinham apenas nas exterioridades da lei? E sobretudo dos saduceus, que dominavam o templo, que presidiam os sacrifícios e que não acreditavam na ressurreição? Era, pois, o tempo em que as figuras deviam acabar e que, de acordo com a predição do Profeta-Rei, Deus devia rejeitar os sacrifícios que haviam sido oferecidos, até então, apenas no templo de Jerusalém.

Era o tempo em que iam ser cumpridas as profecias do Antigo Testamento e, assim sendo, em seu encontro com a samaritana, Jesus Cristo anuncia um novo Sacrifício.
09
JESUS CRISTO ANUNCIA UM NOVO SACRIFÍCIO

E era preciso um novo sacrifício que fosse necessariamente oferecido em espírito e em verdade.

E é este sacrifício que Jesus Cristo anuncia à samaritana, quando ela lhe coloca a questão relativa ao lugar onde se devia adorar, isto é, sacrificar; porque a contenda entre os judeus e os samaritanos dizia respeito apenas ao lugar do culto exterior, das oblações e dos sacrifícios, e não sobre o lugar da prece e do sacrifício interior, pois todos estavam persuadidos que se podia rezar e se oferecer a Deus em toda parte. Jesus Cristo entra no pensamento da samaritana e lhe diz que chegou a hora em que não mais se adorará, isto é, que não se sacrificará mais, nem sobre a montanha de Garizin, nem em Jerusalém; mas que existirão verdadeiros adoradores que adorarão o Pai em espírito e em verdade, e que não ficarão mais restritos a um lugar em particular.

A resposta de Jesus Cristo confirma a necessidade de um novo sacrifício, do Sacrifício da Nova Lei, que será oferecido em todo lugar e que será sempre oferecido em espírito e em verdade por Aquele que é a própria Verdade.

Este novo sacrifício, anunciado por Jesus Cristo à samaritana, já tinha o seu protótipo no sacrifício de pão e  vinho oferecido por Melquisedeque, como disposto por Deus 2000 anos antes; e, por isso mesmo, o pão e o vinho devem ser, sempre, a matéria do sacrifício que Nosso Senhor Jesus Cristo está por instituir.

E sobre este novo sacrifício, agora, é o próprio Verbo de Deus feito homem, e não mais os antigos profetas, quem vai nos falar, primeiramente prometendo a Eucaristia e depois realizando Ele mesmo a grande maravilha.
10
JESUS CRISTO PROMETE A EUCARISTIA

O evangelista São João, com a vivência do testemunho ocular e com a garantia de escritor sagrado inspirado por Deus, nos relata o que aconteceu. Para ambientar a promessa eucarística, São João faz neste caso uma exceção singular com relação à norma que se havia imposto de completar os sinópticos e, portanto, de não repetir os milagres já narrados nos outros  Evangelhos. Os outros três evangelistas haviam descrito a primeira multiplicação dos pães (Mt.14,13-21; Mc.6,34-44; Lc.9,12-17) e dois deles como andou Jesus sobre as águas em seguida àqueles milagres (Mt.14,22-34; Mc.6,45-53) e, todavia, São João volta a referir-se sobre esses acontecimentos (Jo.6,1-21), sem dúvida alguma não só para tornar mais inteligíveis as palavras de Jesus relativas aos pães multiplicados por Ele, como também para  indicar-nos a preparação psicológica que o Senhor se dignou dar aos seus apóstolos, mostrando-lhes o seu poder e chamando a sua atenção sobre as propriedades singulares que Ele podia fazer desfrutar seu Corpo, a fim de que eles pudessem receber melhor a inaudita promessa.

Partindo do milagre da multiplicação dos pães (Jo.6,1-15), começa Jesus convidando seus ouvintes a que trabalhem não por um alimento perecível mas por aquele que dura até a vida eterna (Jo.7,27), que é superior ao maná (Jo.6,31-33; 6,49; 6,58), que é o próprio Cristo — o pão da vida — isto é, a carne e o sangue de Cristo que, verdadeira comida e verdadeira bebida, dão a vida eterna pela união com a vida do próprio Cristo [“Quem come a minha  carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo.6,56)]. Insiste Jesus na fé como disposição fundamental e como força da alma para compreender e viver a realidade eucarística.

A realidade da Eucaristia como comida e bebida, do Corpo e do Sangue do Senhor, está afirmada em termos peremptórios a ponto de empregar (nos versículos 54 e 56), para falar de comer, uma palavra mais realista que significa literalmente mastigar [que é palavra sumamente rara e que não aparece na versão grega do Antigo Testamento, chamada dos setenta, nem no Novo Testamento, a não ser nesta passagem de São João (Cap.6), em Jo.13,18 e em Mt.24,38], e a ponto de reforçar Jesus o sentido de comida e de bebida dizendo "verdadeira comida" e "verdadeira bebida" (v55 ou 56). E, além disso, esta realidade eucarística é posta em evidência pelo fato de que os ouvintes de Jesus O interpretaram neste sentido e por isso se escandalizaram, não conseguindo compreender como podia o Senhor dar-lhes a sua Carne para comer (v52 ou 53); e Jesus não desautorizou tal interpretação, como deveria fazê-lo tratando-se de um ponto tão importante e de tantas conseqüências, mas, ao contrário, confirmou o que havia dito com expressões as mais realistas (vv. 53-58 ou 54-59). Outrossim, quando muitos dentre os seus próprios discípulos murmuravam como era “dura” (v.60 ou 61) essa linguagem e inclusive se afastaram de Jesus (v.66 ou 67), o Mestre não disse aos seus doze apóstolos: entendei bem as coisas e não vos assusteis, pois o que lhes disse é uma figura ou um simbolismo, mas apenas lhes perguntou simplesmente se também eles queriam se retirar (v.67 ou 68).

Continuando seu discurso eucarístico, Jesus promete com toda clareza que sua Carne eucarística dará imortalidade a quem a coma; não imortalidade corporal, mas sim ressurreição (v54 ou 55), para nunca mais morrer de novo. Este é um dos pensamentos que, com mais carinho, foi recolhido já nos primeiros documentos da  tradição cristã na luta contra os hereges que acreditavam que a carne era, em si mesma, má e incapaz de ressuscitar para uma vida sem fim.
Diz o Evangelho de São João, no capítulo 6, versículos 47 a 58, que:
“47 Em verdade, em verdade, vos digo: Quem crê tem a vida eterna. 48 Eu sou o PÃO da VIDA. 49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. 50 O pão que desceu do céu é tal que quem come dele não morre. 51 Eu sou o PÃO VIVO QUE DESCI DO CÉU. Se alguém comer deste pão viverá eternamente; e o PÃO, QUE EU DAREI, É A MINHA CARNE, para a  vida do mundo”.
52 Mas os judeus discutiam entre si dizendo: “Como pode este dar-nos a sua carne para comer?”
53 “Em verdade, em  verdade, vos digo, respondeu-lhes Jesus: Se não comerdes a carne do Filho do homem e beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia. 55 Porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida. 56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. 57 Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim quem Me come, também viverá por Mim. 58 Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que vossos pais comeram e morreram. QUEM COME DESTE PÃO VIVERÁ ETERNAMENTE”.
Afirma, assim, Nosso Senhor Jesus Cristo que esse Pão — matéria do novo sacrifício que Ele já havia anunciado — e que Ele irá dar — será sua Carne e uma verdadeira comida, assim como seu Sangue uma verdadeira bebida, para a vida do mundo.

Aproxima-se hora do Novo Sacrifício; pão e vinho serão transformados, isto é, serão transubstanciados no Corpo e no Sangue de Jesus e essa Vítima, pura e sem mancha, será ofertada à majestade do Altíssimo, quando Ele, Jesus, oferecer ao Pai, pela primeira vez, na Última Ceia, o Sacrifício da Nova Aliança, quando Ele fará, também, que os Apóstolos participem da consumação da Sagrada Vítima.

JESUS CRISTO vai instituir —mistério dos mistérios— a EUCARISTIA: SACRIFÍCIO e SACRAMENTO.

11
JESUS CRISTO OFERECE - ANTES DA CRUZ - O NOVO SACRIFÍCIO 
 
O Novo Testamento oferece-nos quatro relatos sobre a instituição do Sacrifício da Nova Aliança: os dos três Evangelhos sinópticos e o de São Paulo em sua primeira carta aos Coríntios. Os quatro coincidem inteiramente em relatar que Jesus, na véspera de sua morte, fez do pão e do vinho seu próprio Corpo e seu próprio Sangue.

A simplicidade das palavras de Jesus foi extrema: ESTE É O MEU CORPO;  ESTE É O MEU SANGUE; a mesma simplicidade com que é dito no Gênesis, quando Deus criou o mundo, que Ele o fez dizendo: QUE ASSIM SE FAÇA.
 
Porém a inteligência humana experimenta uma vertigem ao acercar-se a este abismo, ou melhor, a este mistério: o pão convertido no  verdadeiro Corpo de Jesus, de modo tão real que, como logo dirá Cirilonas, naquela Última Ceia Jesus se levava a Si mesmo em suas mãos.

Todavia, é preciso considerar que os Apóstolos já haviam conhecido esta infalível eficácia da palavra do Salvador ao ser aplicada sobre a matéria inanimada: cala, emudece, havia dito encarando o mar, e amainou o vento e seguiu-se uma grande bonança {Mc.4,39}. Além disso, o poder de Jesus sobre o pão havia sido mostrado de forma patente e concretamente aos Apóstolos nas milagrosas multiplicações do pão {Jo.6,1-15; Mt.15,32-39} e sobre o vinho quando Jesus fez da água vinho, em Caná {Jo.2,1-11}. Por outro lado, com relação ao próprio Corpo de Jesus, já sabiam os Apóstolos que o mesmo facilmente se libertava das leis a que estavam sujeitos os demais corpos, como o haviam comprovado quando Jesus andou sobre as águas do mar {Jo.6,16-21} e no episódio da transfiguração {Mt.17,1-9}.

Psicologicamente o que mais diretamente obrigava os Apóstolos a entender as palavras de Jesus tal como foram ditas: ESTE É O MEU CORPO, ESTE É O MEU SANGUE, era a promessa que lhes havia feito, com termos tão claros, de dar-lhes a comer a sua Carne e de dar-lhes a beber o seu Sangue. Aos Apóstolos era impossível esquecer aquela promessa, que em si mesma já era admirável, mas que, ademais, havia significado para eles o momento crucial em sua decisão de seguir acompanhando-O, enquanto que muitos discípulos haviam, então, se separado de Jesus {Jo.6,67-70}.

Jesus Cristo, na Última Ceia, transubstanciou então o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue e, em seguida, ofereceu-Se em sacrifício.

Este caráter de sacrifício está manifestamente indicado na Sagrada Escritura. Encontramos, com efeito, expressões típicas de sacrifício, principalmente a respeito do Sangue, o qual é dito derramado por muitos em remissão dos pecados {Mt.26,28} e que é chamado Sangue do Testamento {Mt.26,28; Mc.14,24} ou do Novo Testamento {Lc.22,20; 1Cor.11,25}, palavras estas que na doutrina do Antigo e do Novo Testamento têm sentido próprio de sacrifício. Este sacrifício tem necessária e íntima relação com o sacrifício que Jesus vai oferecer no dia seguinte na Cruz, mas que aqui aparece oferecido na própria Ceia, como o provam suficientemente os particípios Corpo “dado” {Lc.22,19} e Sangue “derramado” {Mt.26,28; Mc.14,24; e Lc.22,20} que são particípios presentes e também porque se acaba de falar do Corpo e do Sangue no indicativo presente "é". Um argumento ainda mais forte advem do relato de São Lucas quando diz que o cálice é derramado {Lc.22,20} porque assim fica bem mais claro que não se trata do Sangue derramado na Cruz mas sim do Sangue contido no cálice. Trata-se, portanto, do sacrifício oferecido por Jesus na Última Ceia em indissolúvel união com o sacrifício  oferecido na  Cruz, pois, tanto na Ceia como na Cruz trata-se do Sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus.

E este sacrifício, que Jesus Cristo institui imediatamente antes de ir se oferecer sobre a Cruz, Ele o instituiu por amor: “Jesus que tinha amado os seus que estavam no mundo amou-os até o fim” {Jo.13,1). 

E certamente era preciso um enorme poder e um amor infinito para transformar o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue e para fazer antes de sua morte, por antecipação, uma efusão de seu Sangue: “ESTE É O MEU CORPO QUE É DADO POR VÓS...ESTE CÁLICE DA NOVA ALIANÇA É O MEU SANGUE QUE É DERRAMADO POR VÓS” {Lc.22,19-20}; efusão real e misteriosa no corpo e no coração dos comungantes antes deste Sangue sair visivelmente de seu Corpo sobre a Cruz. 

Nosso Senhor Jesus Cristo havia instituído a Eucaristia; havia sido oferecido o primeiro Sacrifício e entregue aos convidados a primeira Comunhão. 

E, mais ainda, pois além de instituir, Nosso Senhor perpetuou este Sacrifício ao ordenar: hoc facite! {Lc.22,19}. 

FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM”.
12
O SACRIFÍCIO DA CRUZ 

A Sagrada Escritura e a Tradição, junto com as declarações solenes do Magistério Eclesiástico, nos ensinam como dogma de fé que, na Cruz, Jesus Cristo ofereceu ao Pai, ofendido por nossos pecados, um verdadeiro e autêntico sacrifício.

Nos infelizes tempos de irreligiosidade, que haviam antecedido a chegada do Messias, Jesus Cristo, que era a verdade de todas as figuras, vem se oferecer a Si mesmo, e suprir assim a imperfeição de todos os antigos sacrifícios.

Com efeito, Jesus Cristo predisse por duas vezes a sua Paixão e em uma dessas ocasiões Ele diz: “É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e escribas, que seja morto, e ressuscite ao terceiro dia (Lc.9,22)”.

“Não encontrando coisa alguma no mundo, diz Santo Agostinho, que fosse bastante pura para oferecer a Deus, Ele se ofereceu a Si mesmo. E é por esta oblação, que será permanente e eterna, que os homens foram santificados (Hebr.10,10; 10,14). Porque Ele se ofereceu uma vez e para sempre (Hebr.10,14; 10,10). Sua vida foi um contínuo sacrifício até que Ele, na Cruz, tivesse derramado todo seu Sangue. Então, a figura dos sacrifícios sangrentos de Aarão foi substituída; e todos os sacrifícios, que deviam ser multiplicados por causa de suas imperfeições, desapareceram, para que os fiéis recorram apenas ao único e verdadeiro sacrifício de nosso divino Mediador, que é o sacrifício que expia os pecados”.

E São Paulo, em sua carta aos Hebreus, demonstra a superioridade do Sacrifício de Cristo sobre os da Antiga Aliança: 
 
É verdade que a primeira Aliança teve também regulamentos relativos ao culto e um santuário temporal. Com efeito, foi construído o tabernáculo com uma parte anterior, chamada o ‘santo’, na qual estavam o candelabro, a mesa e os pães da proposição. Por trás do segundo véu, havia um tabernáculo, que se chama o ‘santo dos santos’, contendo um turíbulo de ouro e a Arca da Aliança, coberta de ouro por todos os lados. E nela havia uma urna de ouro, com o maná, a vara de Aarão que tinha florescido, e as tábuas da aliança. E sobre elas estavam os querubins da glória, que cobriam o propiciatório. Mas não cabe  aqui  falarmos  destas coisas pormenorizadamente. Dispostas assim estas coisas, os sacerdotes entravam em qualquer tempo no primeiro tabernáculo, para desempenhar as funções do culto. Mas no segundo o pontífice só entrava uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia pelos seus pecados e pelos do povo. Com isto o Espírito Santo mostra que o caminho do santuário não estava ainda franqueado, enquanto subsistisse o primeiro tabernáculo. Isto é uma figura do tempo presente. Ela significa que as oblações e sacrifícios então oferecidos não podiam purificar a consciência de quem prestava o culto. Com efeito, eles constavam somente de comidas e bebidas, e de diversas abluções e cerimônias carnais, impostas até o tempo da restauração” (Hebr.9,1-10).
(Valor do sacrifício do Cristo)

A seguir (Hebr.9,11-15), o Apóstolo contrapõe aos sacrifícios antigos, inferiores e ineficazes, o Sacrifício de Cristo, que penetrou o céu (v.11) com seu sangue (v.12) e nos purificou do pecado (v.14), tornando-se o Mediador da Nova Aliança (v.15):

11 Mas Cristo veio como Pontífice dos bens futuros; e passando por um tabernáculo mais excelente e perfeito, não feito por mão de homem, isto é, não deste mundo, 12 entrou no Santo dos Santos não pelo sangue de bodes ou de bezerros, mas pelo seu próprio Sangue, e de uma vez  para sempre, porque alcançou a Redenção eterna. 13 Com efeito, se o sangue dos cabritos e dos touros bem como a cinza duma novilha, com que se aspergem os impuros, os santifica quanto à pureza do corpo, 14 quanto mais o Sangue de Cristo, que pelo Espírito Santo se ofereceu a Si mesmo, sem mácula, a Deus, não purificará a nossa consciência das obras da morte, para servirmos ao Deus vivo?”
 
“15 E por isso Ele é o Mediador da  Nova Aliança: morrendo para resgatar os pecados cometidos sob a primeira Aliança, quis que recebessem a herança eterna os escolhidos, a quem foi prometida, em Jesus Cristo, Nosso Senhor” (Hebr.9,15).
 
De fato, as oblações da antiga Aliança não agradavam a Deus e, assim sendo, São Paulo, na mesma Epístola aos Hebreus, diz: 

Por isso é que, entrando no mundo, Cristo diz: Tu não quiseste hóstia nem oblação, mas me deste um corpo. Os holocaustos pelo pecado não te agradaram. Então disse Eu: Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade, como está escrito de Mim no cabeçalho do livro” (Hebr.10,5-7).

E continua São Paulo: 

Primeiro disse: não quiseste hóstias, oblações e holocaustos pelo pecado, nem te agradas deles: são coisas que se oferecem segundo a lei. Depois acrescentou: Eis que eu venho para fazer, ó Deus, a tua vontade. Aboliu o primeiro para estabelecer o segundo. Por essa vontade é que somos santificados, pela oblação do Corpo de Jesus Cristo, uma vez para sempre” (Hebr.10,8-10).

E é em Jesus Cristo que encontramos realmente, nesse único santificador, tudo aquilo que nós podemos desejar e considerar em todos os sacrifícios: Deus a quem se deve oferecer, o sacerdote que oferece e o dom que se deve ofertar. Porque este divino Mediador, Sacerdote e Vítima, é um com Deus a quem Ele oferece; e que está reunido, ou, mais ainda, que se fez um com todos os fiéis que Ele oferece para os reconciliar com Deus. É certo que, na cruz, Ele foi ao mesmo tempo Sacerdote e Vítima. Os judeus e os gentios que o mataram foram os seus carrascos e não os seus sacrificadores; foi então Ele quem se ofereceu em sacrifício e quem nos ofereceu com Ele sobre a cruz.

Com este sacrifício deu Jesus Cristo, e em Jesus Cristo o gênero humano também, ao Pai uma adoração, uma ação de graças, uma expiação infinitas; apresentou uma impetração de valor infinito, ficamos redimidos de nossos pecados; foi o Pai satisfeito por todas as maldades dos homens com satisfação condigna e superabundante; foi o Pai amado e glorificado com amor infinito e com infinita glorificação. Por Jesus Cristo e em Jesus Cristo damos à Augusta Trindade mais honra do que aquilo que Lhe tiramos pelo pecado de Adão e por quantos pecados adicionaram os homens. O Sacrifício de Jesus é o momento culminante da criação. 

Felizmente este momento foi perpetuado; foi perpetuado na herança que o Senhor nos deixou ao instituir, na Última Ceia, um sacrifício visível: “fazei  isto  em  memória  de  Mim”; um sacrifício para dar continuidade, ao longo dos séculos e até o fim dos tempos, ao Sacrifício da Cruz; um sacrifício incruento no qual Nosso Senhor Jesus Cristo é o oferente principal e também a própria vítima; um sacrifício que faz chegar até nós — e aos que virão depois de nós — as graças salvadoras do Sacrifício do Calvário. Tal sacrifício é o Santo Sacrifício da Missa, que é o mesmo Sacrifício da Cruz sacramentalmente transportado para os nossos altares, e é, por isso mesmo, a nossa maior herança.
13
O SACRIFÍCIO DA CRUZ É ÚNICO. POR QUE RENOVÁ-LO? 

Diz São Paulo que é pela vontade de Deus que “somos santificados, pela oblação do Corpo de Jesus, uma vez para sempre” (Hebr.10,10), mas, antes, foi dito que o Sacrifício da Cruz foi perpetuado. Aprofundemos, pois, um pouco mais esta questão. 

O Sacrifício do Calvário é único e basta para render a Deus toda honra e glória e para obter para os homens a graça; todavia esse Sacrifício, fonte única de todo o bem superior, Deus o quis tornar presente em todas as gerações de homens que se sucederão ao longo de todos os séculos até o fim do mundo, como já havia profetizado o profeta Malaquias: “Eis  que em  todo  lugar se  oferece  a  Deus uma oblação pura”.

É certíssimo que Cristo operou a Redenção do mundo em um ato único e que Ele morreu uma só vez. Por sua morte, logrou Cristo a salvação para todos os homens. Esta é a doutrina da Igreja; Cristo morreu, portanto, para todos. No entanto, isso não quer dizer que todos os homens sejam salvos. Ao contrário, Cristo  nos disse que muitos irão ao fogo eterno.

A Paixão de Cristo é causa universal de salvação e uma causa universal deve ser aplicada aos casos individuais. Ora, os méritos da Paixão de Cristo nos são aplicados precisamente pela renovação do Sacrifício da Cruz que é continuado no santo Sacrifício da Missa.

Eis um exemplo. Ainda que uma fonte seja suficientemente abundante para satisfazer as necessidades de toda uma cidade, ainda será preciso captar essa  fonte e transportar a água até a porta de cada habitante, senão, apesar da fonte, pode-se vir a morrer de sede. Assim, por sua Paixão, Cristo abriu a fonte de todo o bem espiritual. Todavia, isso não basta para que efetivamente participemos dessa fonte, pois é preciso que a aplicação de seus frutos se faça para cada um de nós. Essa é a obra do Sacrifício da Missa.

O Sacrifício da Missa, Sacrifício da Cruz sacramentalmente trazido para os nossos altares, é necessário para que os frutos da Paixão cheguem até nós.
14
O SACRIFÍCIO DA CRUZ E SUAS MODALIDADES 

O Sacrifício da Cruz — fonte original de todas as fontes de graças — foi perpetuado no Santo Sacrifício da Missa que é o mesmo sacrifício que Jesus Cristo instituiu e ofereceu na Última Ceia, quando Ele, na véspera de sua Paixão, ordenou aos Apóstolos oferecerem o sacrifício do seu Corpo e do seu Sangue:
 
Fazei  isto  em  memória  de  Mim”.
 
Na Última Ceia o Sacrifício da Cruz foi antecipado e não só foi este sacrifício ali oferecido como foi instituído o modo segundo o qual devia ser celebrado, depois do Calvário, até o fim dos tempos. 
 
Na Missa o Sacrifício da Cruz é sacramentalmente transportado para o altar, ao ser realizado conforme o modo estabelecido por Jesus na Última Ceia. Há, pois, três modalidades, mas um único sacrifício: o Sacrifício da Ceia é o próprio Sacrifício da Cruz que é o mesmo Sacrifício da Missa.  
 
15
O SACRIFÍCIO DA MISSA 

O Sacrifício da Missa é a continuação — no tempo e no  espaço — do Sacrifício da Cruz; no Altar é oferecida a mesma Vítima que foi imolada no Calvário, isto é, o próprio Cristo; uma Vítima que está fisicamente presente, que tem uma Presença Real ainda que sacramental, pois está escondida sob as aparências do pão e do vinho. Só a maneira de oferecer é diferente: no Calvário a imolação é sangrenta, na Missa a imolação reproduz-se sacramentalmente, isto é, por um sinal sacramental, a Deus reservado, que produz e realiza o que significa. A separação das oblatas é sinal sagrado que significa a morte de Cristo na Missa.

No sacrifício de animais da Antiga Aliança, a separação do corpo e do sangue significa a morte da vítima; no Sacrifício da Nova Aliança, a separação do pão e do vinho consagrados significa sacramentalmente a morte da Vítima: Cristo.

No Sacrifício da Missa, o sacerdote sacrificador também é Cristo, que perpetua a oferenda voluntária de seu sacrifício, mas, agora, Ele o faz pelos lábios de seus ministros, que são seus instrumentos, que, agindo “in persona Christi”, atualizam a palavra como se o próprio Cristo a pronunciasse. Com efeito, o sacerdote, pelas palavras que ele pronuncia na Consagração, faz vir Deus à terra; quando fala o sacerdote é o próprio Cristo que fala e que opera o milagre, isto é, a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso mesmo, os seus ministros devem fazer, por ocasião do Sacrifício da Missa, aquilo que Jesus Cristo fez na Última Ceia, quando Ele antecipou, por assim dizer, o Sacrifício da Cruz. 

Ao dizer “hoc facite” — fazei isto em memória de Mim Jesus Cristo não só estabeleceu o mandato, como também instituiu “o que” e “como” devia ser oferecido o santo  Sacrifício da Missa, por “quem” devia faze-lo; de fato, para a validez duma  Missa existem condições essenciais: a matéria e a forma do sacramento, o sacerdote validamente ordenado e a intenção de fazer o que sempre fez a Igreja. Como “matéria” do sacramento Ele escolheu o pão e o vinho, como o havia feito Melquisedeque, que são separados do uso comum e se tornam as oblatas; a “forma” do sacramento são as palavras que Jesus pronunciou na Última Ceia e, por elas, as oblatas são transubstanciadas no Corpo e no Sangue do Senhor, o que torna a Vítima efetivamente presente e não apenas simbolicamente; e os sacerdotes são aqueles que foram separados da vida comum para servirem ao Senhor e que, como sucessores dos Apóstolos, receberam o mandato de oferecer o santo Sacrifício da Missa. E se tomarmos um bispo qualquer de nossos tempos, podemos reconstituir a fila ininterrupta que pode ser assim imaginada: mãos antigas impostas em cabeças novas, e outras mãos mais antigas pousadas em outras  cabeças, até o dia em que os primeiros Apóstolos receberam de Cristo a primeira sagração episcopal; e por isso mesmo: “nunca se verá faltar os sacerdotes e os sacrifícios”, como predisse Jeremias

E o Sacrifício da  Missa, que será oferecido, até o fim dos tempos, e “em toda parte pelo “sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque”, por meio de seus ministros, é ofertado a Deus com os seguintes fins:
8     para adorá-Lo, para honrá-Lo como convém, e sob este ponto de vista o sacrifício é LATRÊUTICO;
8     para Lhe dar graças pelos benefícios recebidos, e sob este ponto de vista o sacrifício é EUCARÍSTICO;
8      para aplacá-Lo, dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados, para sufragar as almas do Purgatório, e sob este ponto de vista o sacrifício é PROPICIATÓRIO; e
8      para alcançar todas as graças que nos são necessárias, e sob este ponto de vista o sacrifício é IMPETRATÓRIO.
Temos, assim, o único Sacrifício da Nova  Aliança substituindo todos os sacrifícios da Antiga Aliança, os quais não agradavam a Deus.

16
O SACRIFÍCIO DA MISSA NÃO É A MISSA
 
Convém esclarecer que o Sacrifício da Missa e a Missa não constituem uma só e mesma coisa, mas o sacrifício se efetua na Missa.
 
De fato, é na dupla Consagração que se realiza o Sacrifício; é nesse rito, prescrito pelo Senhor, que se renova sacramentalmente o Sacrifício do Calvário. Jesus Cristo é, portanto, Ele mesmo, o autor da Missa naquilo que ela tem de essencial.

É a Igreja que, por sua vez, institui os ritos da Missa para magnificar o Sacrifício do Senhor e para explicitar seu mistério e dispor, desse modo, os espíritos aos sentimentos de adoração e de devoção.
17
O SACRIFÍCIO DA MISSA É REALIZADO NA DUPLA CONSAGRAÇÃO
 
O autor do “De Sacramentis”, atribuído a Santo Ambrósio (+397), diz que a mudança, ou melhor, a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor se dá no momento que são pronunciadas as palavras de Jesus Cristo.
 
Santo Ambrósio, no tratado “Dos Iniciados”, que é incontestavelmente de sua autoria, pronuncia-se quase que com os mesmos termos sobre tal mudança e assinala que a benção tem mais força que a natureza, porque a benção muda mesmo a natureza.
 
Ainda que apenas a benção ou apenas a prece de Jesus Cristo possa, sem dúvida, produzir a mudança do pão em seu Corpo, como apenas a Sua vontade modificou a água em vinho nas bodas de Caná, ou como a Sua benção multiplicou os pães, os Padres nos dizem sem qualquer ambigüidade que Jesus consagrou seu Corpo com estas palavras: Isto é o meu Corpo. Jesus Cristo tomando o pão, diz Tertuliano, e o dando aos seus discípulos, Ele o fez seu Corpo ao dizer: Isto é o meu Corpo. Santo Ambrósio, Santo Agostinho falaram a mesma coisa e é assim que a Igreja deseja que nós falemos.
(A intenção da Igreja deve ser manifestada) 

E sobre a Consagração que se faz todos os dias sobre os nossos altares, também deve ser dito que a Igreja deve fazer aquilo que Jesus Cristo fez. É uma ordem: hoc facite, fazei isto em memória de Mim. Ora, Jesus Cristo rezou, benzeu e pronunciou estas palavras: Isto é o meu Corpo; é necessário, pois, rezar, benzer e pronunciar estas mesmas palavras. Estas preces, que o sacerdote deve dizer, vieram da mais alta tradição a todas as grandes Igrejas. São Basílio (+379) desejando mostrar que há dogmas não escritos diz: “Quem é este  que nos deixou por escrito as palavras que servem para a  consagração da Eucaristia?” porque, prossegue ele, “nós não nos contentamos com  as palavras que são relatadas pelo Apóstolo e pelos Evangelistas; mas nós acrescentamos outras antes e depois, como tendo bastante força para os mistérios, as quais nós aprendemos nessa doutrina não escrita”.
 
São Justino, que escreveu 40 anos depois da morte de São João, por sua vez, diz que “nós sabemos que estes alimentos, destinados à nossa alimentação comum, são modificados pelas preces no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo”, porque de fato essas preces contêm as palavras de Jesus Cristo e tudo aquilo que as deve acompanhar.
 
O que isto quer dizer? que as preces da Igreja têm a mesma virtude que as palavras de Cristo? Não é isso que os Padres e os Concílios querem que nós entendamos, já que eles nos dizem abertamente, em diversos lugares, que as palavras de Jesus Cristo contêm essencialmente a virtude que modifica as dádivas (as ofertas, os dons) em seu Corpo e em seu Sangue, como o Concílio de Florença declarou depois deles e como a Igreja do Oriente o reconheceu, de acordo mesmo com o relato daqueles que permaneceram no cisma. Mas todos os antigos autores juntaram sempre, com desvelo, as preces da Igreja às palavras de Jesus Cristo como tendo bastante força para a consagração, conforme a expressão de São Basílio. E por que isto? porque nos sacramentos a intenção da Igreja deve ser manifestada. Ora, as preces que acompanham as palavras de Jesus Cristo assinalam a intenção, os desejos, e o que a Igreja tem em vista ao fazer pronunciar tais palavras, pois isto sem aquilo, poderá ser considerado como uma leitura histórica. É a Igreja que, pela autoridade de Jesus Cristo, consagra os padres aos quais Ela assinala o que eles devem fazer por ocasião da grande ação do Sacrifício. O sacerdote é o ministro de Jesus Cristo e da Igreja e ele deve falar pela pessoa de Jesus Cristo e como representante da Igreja. Ele começa em nome da Igreja invocando o Todo-Poderoso para que atue sobre o pão e o vinho, a fim de que eles sejam transubstanciados no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo; e, depois disso, como ministro de Jesus Cristo, ele não fala mais em seu nome, dizem os Padres. Ele pronuncia as palavras de Jesus Cristo e, conseqüentemente, é a palavra de Jesus Cristo que consagra; isto é, a palavra d`Aquele por quem todas as coisas foram feitas. Assim, é Jesus Cristo quem consagra, como dizem várias vezes São Crisóstomo e os outros Padres; mas Ele o faz pela boca e pelas preces dos sacerdotes, como diz São Jerônimo.
 
Admiremos, pois, todas as palavras sagradas que os padres pronunciam e digamos com São João Crisóstomo (+407) em seu terceiro livro do Sacerdócio: “Quando vocês vêm o sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício, fazendo as suas preces, envolvido pelo povo santo, que foi lavado pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que se imola sobre o altar, pensam vocês que estão ainda sobre a terra? não acreditam vocês estarem elevados até o céu? ó milagre! ó bondade! Aquele que está sentado à direita do Pai encontra-se por um momento entre nossas mãos e vai se dar àqueles que o querem receber”.
 
Assim, a doutrina da Igreja que nos assegura que ao serem ditas as palavras da Consagração, quando se dá a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor, Jesus Cristo está realmente, está fisicamente presente no Altar, trazido a terra pelo sacerdote, e que Ele se oferece em verdadeiro sacrifício, não é uma doutrina tardia (como disse -e ainda diz- a heresia protestante e como o diz agora a heresia progressista), mas é, na verdade, a mesma doutrina que foi pregada pelos Apóstolos, por São Paulo e pelos primeiros Santos Padres da Igreja.
 
18
O SACRIFÍCIO DA MISSA SEGUNDO SÃO PAULO
 
São João não se refere em seu Evangelho à instituição da Sagrada Eucaristia. Neste ponto o Apóstolo não sentiu  haver necessidade de completar os evangelhos sinópticos, os quais, todavia, havia completado magnificamente com o discurso de Jesus prometendo a Eucaristia.
 
Quando o discípulo amado compôs o seu Evangelho, já havia muitos anos que as comunidades cristãs vinham celebrando a  Eucaristia do Corpo e do Sangue do  Senhor, como nos testemunham as cartas de São Paulo e os Atos dos Apóstolos.
 
Podemos deduzir, pois, que São João entendeu que não era necessário acrescentar coisa alguma à doutrina do Apóstolo dos gentios.
Em duas passagens de sua primeira Carta aos fiéis de Corinto, fala São Paulo da Eucaristia. A data desta carta deve ser colocada provavelmente na páscoa do ano 56. Note-se a importância de tal documento, ainda que do ponto de vista meramente histórico, distante pouco mais de vinte (20) anos da instituição da  Eucaristia na Última Ceia. Esta Carta só teria como anterior a ela, entre os escritos do Novo Testamento, quando muito, o Evangelho de São Mateus.
 
São Paulo faz, no capítulo 10, uma alusão à Eucaristia quando se refere ao maná (Ex.16,15) e à água que por duas vezes jorrou do rochedo (Ex.17,6):
 
3 e todos comeram da mesma comida espiritual; 4 e todos beberam da mesma bebida espiritual (pois eles bebiam da pedra espiritual que os acompanhava - e a pedra era Cristo)”.
 
E referindo-se a Cristo como pedra, designação dada a Javeh no Antigo Testamento, que ia defendendo e ajudando seu povo através do deserto, São Paulo nos oferece um precioso testemunho da divindade de Jesus Cristo.
(O Sacrifício Eucarístico segundo São Paulo)
 
Na segunda passagem, São Paulo é inteiramente explícito em relação à Eucaristia. Para que os Coríntios fiquem muito longe da idolatria o Apóstolo lhes propõe este argumento: por meio das carnes imoladas entra aquele que as come em comunhão com aquele a quem se oferece o sacrifício; os sacrifícios oferecidos aos ídolos, na realidade, são oferecidos aos demônios e aquele que em um banquete sacrifical participa das vítimas que lhes são oferecidas entra em comunhão com os demônios; da mesma forma que aquele que participa das vítimas oferecidas no altar do antigo Israel entra em comunhão com esse altar,  e se não entra em comunhão com Javeh, a quem são oferecidos esses sacrifícios, é porque já se rompeu a união segundo a carne entre Javeh e o velho Israel. Nós cristãos ao participarmos do cálice e do pão, entramos em comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo [“O cálice de bênção que consagramos não é, porventura, a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão do Corpo do Senhor?. Não é, pois, possível participar da mesa do Senhor e também participar da mesa dos demônios.
 
O caráter de Sacrifício da Eucaristia é realçado com toda força nesta passagem pelo paralelismo que São Paulo estabelece entre a Eucaristia, os sacrifícios pagãos e os sacrifícios israelíticos. Além disso, acreditamos que há aqui também um argumento para a equiparação absoluta entre Jesus Cristo e Deus, uma vez que São Paulo não sente necessidade de dizer, como pediria o paralelismo, que a participação do pão e do cálice nos une a Deus, a quem se oferece o sacrifício, mas  apenas lhe é suficiente dizer que nos faz entrar em comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo.
 
(A Presença Real)
 
Outra indicação fundamental, que se recolhe desta passagem de São Paulo [“O cálice de bênção que consagramos não é, porventura, a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão do Corpo do Senhor?” (1Cor.10,16)], é que a Presença Real do Senhor fica suficientemente estabelecida ao empregar São Paulo, sem atenuante algum, as expressões Sangue de Cristo e Corpo de Cristo, as mesmas que utilizará no capítulo 11, em sentido tão realista.
 
Nesse capítulo 11 de sua primeira Carta aos Coríntios (11,23-28), narra São Paulo a instituição da Eucaristia na Última Ceia, conforme o Senhor lhe havia dado a conhecer, o que a seguir transcrevemos:

“23 Recebi do Senhor - o que também vos transmiti ­ que, na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão, 24 e, depois de ter dado graças, o partiu e disse: ‘Tomai e comei; isto é o meu Corpo que é entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim’. 25 Do mesmo modo, depois da Ceia, tomou também o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei isto em memória de Mim. 26 Pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha’. 27 Portanto, quem comer este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. 28 Examine-se, pois, o homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque quem come e bebe indignamente sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação”.
 
Diz, portanto, S. Paulo, a respeito da Presença Real do verdadeiro Corpo e do verdadeiro Sangue do Senhor na Eucaristia, que se trata de comer o pão e de beber o cálice do Senhor dignamente, pois quem não o faz será réu do Corpo e do Sangue do Senhor... pois quem come e bebe sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação. Estas expressões tão reais, comentário de São Paulo às palavras de Jesus na Última Ceia, não deixam lugar a dúvida sobre o fato que o pão e o vinho a que se refere são realmente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo.
 
(Continuação da doutrina de São Paulo)
 
A respeito da Eucaristia como sacrifício é também riquíssima de sentido esta afirmação de São Paulo: “pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes  o cálice,  anunciareis a morte do Senhor  até que Ele  venha” (1Cor.11,26). Trata-se, com efeito, de uma renovação objetiva do Sacrifício da Cruz, continuação, por expresso mandato do Senhor, do Sacrifício da Última Ceia, na qual Jesus falou do Corpo que era dado por nós e do cálice que era o Novo Testamento, a Nova Aliança em seu Sangue (v24s). Por sua vez, este Sacrifício nos coloca diante da alegria esperançosa da vinda triunfal do Salvador, imolado por nós para dar-nos a vida eterna, “até que Ele venha”.
 
Acrescentamos, para completar a doutrina eucarística de São Paulo, a seguinte passagem de sua Carta aos Hebreus (13,10):
 
10 Nós temos um altar, do qual não podem comer os que servem no tabernáculo”.
 
São Paulo insiste, nesta Carta aos Hebreus, que Jesus é sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (5,6-10; 6,20; 7,11-15-17-21), que ofereceu pão e vinho, se bem que São Paulo não faça menção expressa deste oferecimento de pão e vinho por parte de Melquisedeque; além disso, o vocabulário de São Paulo nesta Carta é profundamente eucarístico (p. ex: 9,15.18ss; 10,16s.29; 12,24; 13,20). E as próprias palavras que emprega no versículo 10 acima transcrito, pois o Apóstolo fala de altar, de comer e diz no presente temos, são uma prova do pensamento eucarístico do Apóstolo que unia, sem poder dissociá-los, o Sacrifício da Cruz e sua continuação como sacrifício incruento no Sacrifício do Altar.
 
19
O SACRIFÍCIO DA MISSA SEGUNDO OS SANTOS PADRES DA IGREJA
 
Do nascer ao pôr do sol, será oferecido a Mim, em todo lugar, um sacrifício, e será uma oblação toda pura, porque o Meu nome é grande em todas as nações” (Mal.1,10-11).
 
Não é possível deixar de considerar que os mais antigos doutores da Igreja: São Justino (+165), São Irineu (+202), Tertuliano, São Cipriano (+258), etc, tenham aplicado esta profecia de Malaquias à Eucaristia.
 
Os primeiros santos Padres da Igreja nos fazem ver, de maneira irrefutável, que desde os primeiros tempos do Cristianismo era oferecido a Deus (como o é ainda hoje) um sacrifício — o Santo Sacrifício da Missao mesmo Sacrifício da Cruz —, isto é, a própria “Paixão do Salvador”; com Presença Real da Sagrada Vítima; sacrifício ofertado por aqueles a quem Nosso Senhor Jesus Cristo havia concedido tal poder: “hoc facite!. Senão vejamos: 

(sobre SACRIFÍCIO)

SÃO PAULO
São Paulo, 20 anos depois da instituição da Eucaristia, escreve em sua primeira carta aos Coríntios: “O cálice da benção que consagramos não é, porventura, a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão do Corpo do Senhor?.
 
E na sua carta aos Hebreus: “Nós temos um altar, do qual não podem comer os que servem no tabernáculo”.

SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
A princípios do século II, Santo Inácio de Antioquia expressava a fé comum ao dizer que a Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por nossos pecados e a qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”.
SÃO IRINEU (+202)
Os Apóstolos receberam este Sacrifício de Jesus Cristo e a Igreja o recebeu dos Apóstolos e Ela O oferece hoje, por toda parte, conforme a profecia de Malaquias”.
SÃO CIPRIANO (+258)
O Sacrifício que nós oferecemos é a mesma Paixão do Salvador”.
O pão e o vinho devem ser sempre a matéria do Sacrifício de Jesus Cristo e tornar-se-ão seu Corpo e seu Sangue”.
SÃO CIRILO de JERUSALÉM
São Cirilo de Jerusalém, nos meados do século IV, ao instruir os novos batizados sobre a necessidade de rezar pelos mortos, já dizia: “Nós cremos que suas almas recebem um alívio muito grande em virtude das preces que são oferecidas por eles no santo e temível Sacrifício do Altar”.
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO
Quando vocês vêm o sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício, fazendo as suas preces, envolvido pelo povo santo, que foi lavado pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que se imola sobre o altar, pensam vocês que estão ainda sobre a terra? não acreditam vocês estarem elevados até o céu? Ó milagre! Ó bondade! Aquele que está sentado à direita do Pai encontra-se por um momento entre nossas mãos e vai se dar àqueles que o querem receber”.
SÃO JERÔNIMO
São Jerônimo, por sua vez, diz que Jesus Cristo “ensinou os Apóstolos a atreverem-se a dizer, todos os dias, durante o Sacrifício do seu Corpo: Pai Nosso que estais no céu”.
SANTO AGOSTINHO
Santo Agostinho falando a cerca do Sacrifício da Missa, em seu décimo sétimo livro da Cidade de Deus, diz: “Este Sacrifício foi estabelecido para substituir todos os sacrifícios do Antigo Testamento”.
 
Oferecemos por toda parte, sob o grande Pontífice Jesus Cristo, aquilo que ofereceu Melquisedeque”.
 
E é também Santo Agostinho quem nos explica maravilhosamente o versículo 7 do salmo 39: “Vós não quisestes nem oblações nem sacrifícios”, ao escrever: 

E agora! ficamos nós sem sacrifício? Que Deus não permita. Escutemos a continuação da profecia: ‘Mas me destes um Corpo’. Eis aqui uma nova vítima, e então o que é que Deus rejeitará? As figuras. O que é que Deus aceitará e nos prescreverá para substituir as figuras? O Corpo que substitui todas as figuras, o Corpo adorável de Jesus Cristo sobre nossos altares; este Corpo que os fiéis conhecem e que os catecúmenos não conhece. Este Corpo que nós recebemos, nós que O conhecemos e que vós ireis conhecer, vós, catecúmenos, que não O conheceis ainda; e agrade a Deus que quando vós O conheçais vós não O recebais jamais para a vossa condenação”.
 
(sobre PRESENÇA REAL)
SÃO PAULO
Ver a subdivisão 18.
SÃO CIPRIANO (+258)
O pão e o vinho devem ser sempre a matéria do Sacrifício de Jesus Cristo e tornar-se-ão seu Corpo e seu Sangue”.
 
SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA 
A princípios do século II, Santo Inácio de Antioquia expressava a fé comum ao dizer que a Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por nossos pecados e a qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”.
Esforçai-vos em realizar uma só Eucaristia, pois uma só é a Carne de Nosso Senhor Jesus Cristo e um só é o cálice para nos unirmos em seu Sangue”.
Quero o pão de Deus que é a Carne de Jesus Cristo... e por bebida quero seu Sangue que é puro amor”.
SÃO JUSTINO (+165)
São Justino, que escreveu 40 anos depois da morte de São João, por sua vez, diz que “nós sabemos que estes alimentos, destinados à nossa alimentação comum, são modificados pelas preces no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo”.
 
Este alimento se chama entre nós Eucaristia. Do qual nenhum outro é lícito participar senão ao que crê que a nossa doutrina é verdadeira, e que tenha sido purificado com o batismo para o perdão dos pecados e para a regeneração, e que vive como Jesus ensinou. Porque estas coisas não a tomamos como pão ordinário nem como bebida ordinária, mas assim como o Verbo de Deus encarnado, Jesus Cristo nosso Salvador, teve Carne e Sangue para a nossa salvação (na Cruz), assim também nos foi ensinado que o alimento ‘eucaristizado’ pela palavra da oração vinda de Deus (na dupla consagração) é a Carne e o Sangue daquele Jesus que se encarnou (Presença  Real). Porque os Apóstolos, nos comentários por eles compostos chamados Evangelhos, nos transmitiram que assim lhes havia sido mandado”.
SANTO AMBRÓSIO
Ele (Deus) nos alimenta realmente todos os dias deste sacramento da Paixão”.
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO
Quando vocês vêm o sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício, fazendo as suas preces, envolvido pelo povo santo, que foi lavado pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que se imola sobre o altar, pensam vocês que estão ainda sobre a terra? não acreditam vocês estarem elevados até o céu? ó milagre! ó bondade! Aquele que está sentado à direita do Pai encontra-se por um momento entre nossas mãos e vai se dar àqueles que o querem receber”.

SANTO AGOSTINHO 
Santo Agostinho, ao falar sobre a assiduidade de sua mãe ao Sacrifício do Altar, diz: “Nós participamos deste altar divino, onde nós sabemos que é distribuída a vítima santa pela qual a condenação foi apagada”.
 
(sobre SACERDÓCIO MINISTERIAL)  

SÃO JOÃO EVANGELHISTA
(Vós) não sois do mundo e Eu vos escolhi e separei do mundo...”.
 
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO (+407) 
Não foi homem, nem anjo, nem arcanjo e nenhuma outra potestade senão o próprio Paráclito quem instituiu este ministério”.

Quando vês o Senhor sacrificado e humilde e o Sacerdote orando sobre a Vítima e a todos aspergidos por aquele precioso Sangue, por que razão crês estar na terra entre os homens? Não penetras imediatamente nos céus?”.
 
As citações acima não exigem qualquer interpretação; elas mostram o que os Apóstolos transmitiram aos seus sucessores e assim sucessivamente.

As figuras da Antiga Lei já haviam sido substituídas e com Santo Agostinho afirmamos que foram substituídas pelo Sacrifício do Corpo adorável de Jesus Cristo oferecido sobre nossos altares; e sendo este novo Sacrifício um aprimoramento do antigo sacrifício propiciatório, agora, sacerdote e fiéis devem participar da consumação da Vítima.

E com o Padre Le Brun dizemos que o Sacrifício da Nova  Lei é o Sacrifício do Corpo de Jesus Cristo, “oferecido e comido sobre nossos altares, por toda a terra”.

O Sacrifício da Nova Lei é o Santo Sacrifício da Missa que é o mesmo Sacrifício da Cruz.
20
O SACRIFÍCIO DA MISSA É O MESMO SACRIFÍCIO DA CRUZ  
 
NA MISSA HÁ UM VERDADEIRO SACRIFÍCIO

Jesus Cristo usando o seu poder supremo para fazer a mudança do pão em seu Corpo, e do vinho em seu Sangue (Presença Real), exerceu ao mesmo tempo, o seu poder sacerdotal, ao qual Ele não se elevou de Si mesmo, diz S. Paulo (Hebr.5,5), mas que Ele recebeu de seu Pai (“mas foi elevado por Aquele que Lhe disse: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei”), para ser “sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque” (Hebr.5,6). Como seu sacerdócio é eterno, Ele oferecerá eternamente este sacrifício, e Ele não terá um sucessor. Ele estará sempre sobre os nossos altares, ainda que invisivelmente, o Sacerdote e o Dom, o oferente e a coisa ofertada, como diz Santo Agostinho. Mas para que este sacrifício seja visível, Ele estabeleceu como seus ministros os Apóstolos e os sucessores dos Apóstolos, aos quais Ele deu na Última Ceia o poder de fazer aquilo que Ele acabara de fazer: fazei isto em memória de Mim (Lc.22,19), inclusive repetindo o mandato por ocasião da transubstanciação do vinho em seu sangue, como registrou São Paulo (1Cor.11,25); e eles o têm feito e eles o farão, sempre, todos os dias, em seu nome, por toda a terra: “Oferecemos por toda parte,  sob o grande Pontífice Jesus Cristo, aquilo que ofereceu Melquisedeque”, diz Santo Agostinho. E para mostrar que este Sacrifício jamais terminará sobre a terra, Ele nos ordenou participar e anunciar a sua morte até a Sua última vinda (1Cor.11,26).
 
(Com consumação do Corpo e do Sangue da vítima)
 
O essencial do Sacrifício da Cruz consistiu na oblação que Jesus fez do seu Corpo e, como já foi dito, Ele continua a oferecer este mesmo Corpo sobre o altar; e, levando à sua derradeira perfeição este divino Sacrifício (que no Calvário não podia ser comido pelos fiéis), Ele nos alimenta realmente todos os dias com o sacramento da Paixão, como diz Santo Ambrósio (+397); a manducação da vítima, que faltava no Altar da Cruz, faz a perfeição do sacrifício dos nossos altares. “Nós temos um altar”, diz São Paulo (Hebr.13,10), e é no altar da Igreja que esta manducação se efetua pela comunhão. A mesma vítima é oferecida sobre o Calvário e sobre os nossos altares, mas no Calvário ela é apenas oferecida, enquanto que na Missa ela é oferecida e distribuída, segundo a expressão de Santo Agostinho ao falar sobre a assiduidade de sua mãe ao Sacrifício do Altar: Nós participamos deste altar divino, onde nós sabemos que é distribuída a vítima santa pela qual a condenação foi apagada.
 
E esta é a fé da Igreja: que Jesus Cristo está sentado a direita do Pai e está fisicamente presente, tem uma Presença Real em todos os altares onde o santo Sacrifício da Missa é oferecido, e é o seu Corpo e é o seu Sangue que nos são dados como alimento e bebida da alma: 
 
Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna...”.
 
COM PRESENÇA REAL DA VÍTIMA
 
A fé da Igreja na Presença Real de Jesus Cristo  sob as espécies sacramentais eucarísticas é a fé de todos os tempos.

A princípios do século II, Santo Inácio de Antioquia (+110) expressava a fé comum ao dizer que a Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por nossos pecados e a qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”.

Nos começos da negação eucarística por parte de Berengário, o Concílio Romano do ano 1079 lhe opôs a fé da Igreja: “...e que depois da consagração [o pão e o vinho] são o verdadeiro Corpo de Cristo, (Corpo) que nasceu da Virgem e que, oferecido pela salvação do mundo, esteve pendurado na Cruz, e que está sentado à direita do Pai, e [que o pão e o vinho] são o verdadeiro Sangue de Cristo que foi derramado de seu lado”.

No tempo da maior negação da Eucaristia por parte dos protestantes, o Concílio de Trento proclamava a  mesma fé: “Ensina primeiramente o Santo Concílio e confessa aberta e simplesmente que no venerável sacramento da Santa Eucaristia, depois da consagração do pão e do vinho, debaixo das aparências destas coisas sensíveis, se encerra Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, verdadeira, real e substancialmente (Canon 1). Porque não há contradição entre o fato de estar o Nosso Salvador, Ele mesmo, sempre sentado à mão direita do Pai no céu, conforme o seu modo natural de existir, e que, não obstante, a sua substância esteja presente entre nós, em muitos outros lugares, sacramentalmente, com aquele modo de existir, o qual, ainda que nós possamos apenas exprimi-lo com palavras, podemos, contudo, alcançar com a razão iluminada pela fé e devemos crer firmemente ser possível a Deus”.

Mais recentemente, na grande Encíclica “Mediator Dei” sobre a Liturgia, temos, “uma vez mais, uma idêntica profissão de fé: [com seu culto eucarístico] os fiéis cristãos atestam e solenemente manifestam a fé da Igreja pela qual cremos que é o mesmo Verbo de Deus e Filho da Virgem Maria, que padeceu na Cruz, que se esconde presente na Eucaristia e que reina nos céus”.

E é Jesus Cristo — presente na  Eucaristia —  quem se oferece no Altar, como Ele se ofereceu para morrer sobre a Cruz, mas agora, no Sacrifício da Missa, ele se oferece pelo ministério dos sacerdotes.
 
E NUNCA SE VERÁ FALTAR OS SACRIFÍCIOS EM FUNÇÃO DO SACERDÓCIO MINISTERIAL
FAZEI ISTO! HOC FACITE! Ao dizer tais palavras, Jesus Cristo fez dos Apóstolos, e dos seus sucessores, sacerdotes da Nova Aliança.
 
Os apóstolos, depois de orar, escolheram a Matias para o lugar de Judas (At.1,24-26); mais adiante, também depois de orar, impuseram as mãos sobre sete novos auxiliares (Estevão, Felipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau); e por obra do Espírito Santo impuseram as mãos sobre Saulo e Barnabé (At.13,2-3); e a palavra do Senhor se divulgava (At.6,5-7). São Paulo constituiu Timóteo bispo de Éfeso e a Tito bispo de Creta; mãos antigas colocadas sobre cabeças mais novas e assim sucessivamente; e deste modo foram sendo escolhidos e nomeados os sacerdotes da Nova Aliança.

São João Crisóstomo (354-407), chamado “doutor da Eucaristia”, diz que “não foi homem, nem anjo, nem arcanjo e nenhuma outra potestade, senão o próprio Paráclito quem instituiu este Ministério”, o Ministério dos Sacerdotes e, conseqüentemente, “nunca se verá faltar nem os sacerdotes e nem os sacrifícios” (Jer.33,18).

O sacerdócio da Nova Aliança, com sacerdotes segundo a ordem de Melquisedeque, foi estabelecido para ser oferecido, pelo Sacerdote Eterno, em toda parte, um Sacrifício puro e sem mancha, como profetizou Malaquias, sacrifício este que foi instituído “para tomar o lugar de todos os sacrifícios do Antigo Testamento”, como disse Santo Agostinho: o Santo Sacrifício da Missa.

Assim, o Sacerdote, ao oferecer o Santo Sacrifício da Missa, apenas dá continuidade ao Sacrifício da Cruz, uma vez  que recebeu de Jesus Cristo  a ordem formal, na véspera da sua morte, durante a Última Ceia: fazei isto.

Se os sacerdotes oferecem tal sacrifício —  o Santo Sacrifício da Missa — como ministros de Cristo e da Igreja, também o oferecem os demais fiéis. Mas há entre aqueles e estes uma diferença essencial que reside no caráter sacerdotal,  que unicamente se imprime na alma pelo sacramento da Ordem que dá ao sacerdote o poder de consagrar.
 
Atendendo aos diversos aspectos, explica a doutrina da Igreja que a imolação incruenta pela qual Cristo, em virtude das palavras da consagração, se faz presente sobre o altar em estado de vítima, não a faz o sacerdote na qualidade de representante dos fiéis, senão que como representante de Jesus Cristo mesmo.

Apesar da diferença que existe entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum dos fiéis, os assistentes, como dito acima, também oferecem o Santo Sacrifício da Missa; as pessoas reunidas diante do altar unem-se a Jesus Cristo no oferecimento que é feito a Deus; oferecem a Deus a melhor dádiva que Lhe pode ser ofertada: o sacrifício do seu próprio Filho, o qual substituiu todos os sacrifícios da Antiga  Lei que não agradavam a Deus. E os propósitos pelos quais este sacrifício é realizado são, sempre foram e sempre serão os seguintes: adoração - agradecimento- satisfação pelos pecados e para a salvação das almas - pelos vivos e pelos mortos - pelos presentes e ausentes - pela Santa Igreja Católica - e - para receber as graças que precisamos

“ET INTROÍBO AD ALTÁRE DEI: AD DEUM QUI LAETÍFICAT JUVENTÚTEM MEAM”.
“E APROXIMAR-ME-EI DO ALTAR DE DEUS; PERANTE DEUS QUE É A ALEGRIA DA MINHA JUVENTUDE”.
21
SUBAMOS O CALVÁRIO

O Santo Sacrifício da Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz e, por isso mesmo, a sua celebração permite aplicar aos fiéis os méritos da Cruz, perpetuar esta fonte de graças no tempo e no espaço. O Evangelho de São Mateus termina com estas palavras: “E eis que Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.
 
Assim, cada vez que assistimos ao Sacrifício da Missa, subimos, em espírito, o Calvário, onde nos sentimos ao lado da Mãe das Dores e de São João.
“Eu lá estava”, dizia Santo Agostinho.
Eu quero estar lá, no Calvário de nossos altares”, digamos nós.
 
Subamos o Calvário para dobrarmos os nossos joelhos, para nos curvarmos diante de Nosso Senhor Jesus Cristo e Ele, fisicamente — realmente — presente, receberá as nossas ofertas e súplicas, para levá-las, junto com seu Corpo e seu Sangue, como um suave aroma, ao altar celestial: a seu Pai, nosso Deus Todo-Poderoso.

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